Na última quarta-feira (25), comunidades tradicionais realizaram bloqueios de rodovias em diferentes partes do Brasil, como forma de pressionar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) a rejeitar a tese do marco temporal, que ameaça a demarcação de centenas de terras indígenas em todo o país. Atos do tipo foram registrados em Santa Catarina, Pará, Tocatins, Bahia e Mato Grosso do Sul.
Os protestos se somam a um acampamento montado em Brasília por lideranças de 112 etnias, reunindo mais de 6 mil indígenas, naquela que já é considerada a maior mobilização dos povos originários desde a Constituinte.
O julgamento do caso estava marcado para entrar na pauta do Corte para quarta, mas acabou sendo adiado para hoje, quinta-feira, 26. Foi a quarta vez, em dois meses, que o processo que pode definir o futuro dos povos originários do país deixou de ser analisado pelos magistrados.
No município catarinense de Abelardo Luz, indígenas Kaingang e Guarani dos territórios de Toldo Imbú, Toldo Chimbangue, Kondá, Araça’í, Toldo Pinhal e Palmas trancaram a SC-155. Camponeses de diversos assentamentos do entorno apoiaram a manifestação.
No sudeste do Pará, dezenas de indígenas Suruí-Aikewara, da aldeia Sororó, interditaram o KM 55 da BR-153, conhecida como rodovia Belém-Brasília, entre São Geraldo do Araguaia e Brejo Grande do Araguaia.
O povo Apinajé, da região do Bico do Papagaio, região Norte do estado do Tocantins, fechou a TO-230, conhecida também como Transamazônica. Participaram da ação aproximadamente 300 indígenas de 20 aldeias da Terra Indígena Apinajé.
No início da tarde, mais de 200 indígenas Pataxó da aldeia Panelão, bloquearam a BR-101 no trecho da cidade de Camacan, extremo sul da Bahia. Eles bloquearam a via com pedaços de madeira e outros objetos. A pista foi liberada por volta das 17h30.
No Mato Grosso do Sul, foram interditadas as BR-163 Km 302, em Douradina, BR-163 Km 216 – Caarapó, BR-463 – Ponta Porã, BR-163 Km 58 – Eldorado, BR-262 Km 542 – Miranda, segundo informações da Polícia Rodoviária Federal. Os bloqueios se estenderam desde o início da manhã até as 17h da tarde.
“Estamos somando com nossos parentes que estão em Brasília. Acredito que o Resultado STF vai ser positivo. Agora caso contrário lutaremos até o último Indígena existir. Pois nossa luta é desde 1500 anos. Sempre que nós Indígena lutam juntos, lutaremos por nosso direito”, declarou a Conselheira da Juventude de Dourados Kunhã Poty Hendi’y (Julie Kaiowá), de 24 anos, ao site A Onça.
Em Japorã, no sul do estado, o protesto reuniu mais de 300 indígenas Guarani na Aldeia Porto Lindo, conforme explicou o Cacique Roberto Carlos: “A nossa manifestação aqui é pela vida, é pela Mãe Terra. Quero que os senhores parem um pouquinho e reflitam, os senhores que tem mãe, quando a mãe se sente ameaçada você não se manifestaria? Não ajudaria? A mãe terra está precisando de socorro. E nós indígenas somos os defensores da Mãe Terra, então precisamos da terra para sobreviver”.
Um vídeo que circula nas redes sociais registra a leitura por uma indígena Kaiowa, acompanhada por um grupo de mulheres e crianças da etnia, de um manifesto dirigido ao STF. Confira a íntegra do texto:
“Aos senhores ministros do Supremo Tribunal Federal, aqui está a palavra verdadeira para os senhores, dos povos originários do Brasil, a nossa história não começa em 1988 como querem descrever a nossa história. A nossa resistência é a mais de 1.500 anos, não é agora que esse governo genocida vai acabar com a gente, iremos resistir até o último guerreiro. A vida está nas mãos de vocês senhores ministros, se vocês aprovarem a PL 490 e o Marco Temporal, vocês estarão aprovando a morte dos povos originários e dinheiro para os fazendeiros. Porque esses fazendeiros querem somente gerar dinheiro, defender dinheiro, quando nós somos os guardiões da terra. Aqueles fazendeiros que estão se manifestando é somente para defender o dinheiro. E nosso povo é para defender a vida, a mãe natureza, os animais porque nós somos os guardiões originários desse mundo. Quais vocês preferem senhores ministros? Defender dinheiro ou a vida? Diga não a PL 490, diga não ao Marco Temporal. Direitos indígenas sim, demarcação sim. Sangue indígena nenhuma gota mais, demarcação já!”.