Na madrugada desta segunda-feira (21), a travesti Quelly da Silva (foto), de 35 anos, foi morta e teve seu coração arrancado em Campinas, interior de São Paulo. O desempregado Caio Santos de Oliveira, 20, foi preso após confessar o crime, cometido com uma garrafa de vidro.
O órgão foi encontrado enrolado em um pano no guarda-roupa na casa de Oliveira, no Jardim Marisa, região de Campo Belo. O assassino colocou ainda uma imagem de Nossa Senhora Aparecida sobre o tórax aberto da trans, que trabalhava em um bar, no mesmo bairro.
Em entrevista, Oliveira disse ter conhecido a travesti na noite anterior e que a matou porque ela era “um demônio”. “Ah, ela fez várias coisas, né? Drogas, álcool, tudo” declarou, sorridente, à imprensa local. Contradizendo a versão divulgada pela PM, ele nega ter tido qualquer relação sexual com Quelly.
Não bastasse a maneira cruel e sem sentido como foi morta, a jovem ainda teve sua memória desrespeitada pela maior parte dos meios de comunicação, que sequer a identificou pelo seu nome social, expondo apenas o do registro civil.
Para a transativista Jaqueline Gomes de Jesus, o crime é mais um que evidencia o brutal extermínio das mulheres trans em curso no Brasil.
”Esse foi mais um caso letal de TRANSFOBIA. Explícito, no caso do assassino. E a maneira como tem sido abordado, tanto pela mídia quanto pelas autoridades, exemplifica bem como funcionam as instituições neste que é o país que mais registra assassinatos de TRAVESTIS e MULHERES TRANS: o FEMINICÍDIO TRANS é naturalizado em nossa sociedade” avalia.
De acordo com a associação Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) , são comuns os assassinatos contra o segmento serem cometidos com requintes de crueldade.
“Não é só matar. É matar, esquartejar. Para expurgar toda e qualquer possibilidade de existência e também de humanidade”, explica a secretaria da entidade, Bruna Benevides.