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Chile: um 7 de setembro revolucionário para não esquecer

Em 1986, grupo revolucionário chileno realiza "Operação Século XX", ação que buscava a execução do ditador Augusto Pinochet.

Poucos dias antes do início do ano de 1986, o Partido Comunista (PC) chileno deu início a uma máquina silenciosa para transformá-lo no “ano decisivo” para derrubar Pinochet. Seus principais líderes acreditavam que as condições estavam reunidas para isso: o país tinha protestos de rua em massa há três anos, os partidos e movimentos de oposição quebraram sua letargia e a ditadura respondia intensificando a repressão. Para o PC, que desde 1980 promovia todas as formas de luta contra a ditadura, chegava o momento de fortalecer o enfrentamento. Para isso, contavam com um dispositivo armado próprio, a Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR), e com a ajuda do regime cubano de Fidel Castro.

Em 7 de setembro de 1986, aproximadamente às 18h35, a Frente Patriótica Manuel Rodríguez realizou a “Operación Siglo XX” ou “Operação Século XX”, operação que visava o do ditador Augusto Pinochet, em Cajón del Maipo, região central do Chile, a sudoeste da capital Santiago.

A direção da FPMR havia estudado que naquele domingo de 7 de setembro, Pinochet se mudaria de sua mansão em Cajón del Maipo para a capital Santiago. Embora a Operação Século XX não tenha alcançado seu objetivo, abriu um buraco na imagem da ditadura que resultou no aumento dos dias de protesto e incentivou grande parte da população a se rebelar contra o regime.

Durante a ditadura, que durou quase duas décadas, cerca de 40.000 pessoas foram torturadas, desapareceram ou foram mortas, enquanto mais de 200.000 foram para o exílio.

A operação levou anos de preparação e estudos para perceber que Pinochet realizava o mesmo trajeto todo fim de semana até sua residência em Cajón del Maipo e elegeram esse caminho como o local para pôr em prática o justiçamento. O objetivo de matar Pinochet era, além da execução em si, gerar um levante popular de um povo cansado de 13 anos de ditadura sangrenta, violações dos direitos humanos e pobreza.

Distribuídos em quatro equipes chefiadas por José Joaquín Valenzuela Levi (Comandante Ernesto), emboscaram a caravana que transferia Pinochet para Santiago. Fingindo ser um casal discutindo na estrada, quando duas motocicletas da comitiva passaram, eles usaram um motorhome para bloquear a estrada e imediatamente abriram fogo contra a caravana de 5 viaturas, duas destas blindadas da Mercedes-Benz, sendo uma delas a que estava Pinochet. Descarregaram rifles M-16, um rifle SIG de 7,62 mm, uma submetralhadora P25, um lançador de foguetes LAW e um número desconhecido de granadas de mão.

A Operação Século XX

Os tiros conseguiram neutralizar rapidamente os agentes de segurança que acompanhavam Pinochet, até mesmo os boinas negras do chileno se jogaram na ravina, deixando seu trabalho de segurança diante da saraivada de balas e da pouca possibilidade de reação.

A execução da operação deixou cinco membros da comitiva de Pinochet mortos e outros 11 feridos. O ditador Pinochet saiu com a vida por “sorte”, já que o foguete que atingiu seu veículo não explodiu.

Sem saber se haviam alcançado seu objetivo, os militantes entraram em três veículos da comitiva, sentaram-se nas janelas com as armas do lado de fora e fugiram fingindo ser agentes da Central Nacional de Informaciones (CNI) e conseguiram passar sem problemas pelo controle dos Carabineros, sem levantar suspeitas.

Em resposta, o regime declarou estado de sítio e deu início a uma busca frenética para capturar os responsáveis ​​pelo ataque. O aparelho ditatorial decidiu se vingar naquela mesma noite sequestrando e assassinando quatro militantes de esquerda: Gastón Vidaurrázaga, Felipe Rivera, Abraham Muskatblit e José Carrasco, apenas para desencadear uma forte contra o povo chileno.

Embora a operação não tenha alcançado seu objetivo principal ao não conseguir acabar com a vida de Pinochet, ela conseguiu reduzir a imagem da ao mostrar sua vulnerabilidade à população, que foi incentivada a unir-se em crescentes protestos que geraram um nível de desestabilização no regime, forçando os militares a ceder e negociar uma saída.

Os integrantes da FPMR capturados e condenados à morte, conseguiram escapar da prisão na chamada “Operação Êxito”, em que cavaram um túnel de 60 metros na Penitenciária de em janeiro de 1990 onde 49 presos políticos escaparam, a maior fuga da história do Chile. Como dizem os movimentos populares chilenos: honra e glória aos pioneiros que fizeram o tirano tremer.

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* CNI – Central Nacional de Informaciones era a política e inteligência, criada em 13 de agosto de 1977. Funcionava como órgão de perseguição, sequestro, tortura, assassinato e desaparecimento de opositores políticos durante a de Augusto Pinochet.

Rafael Daguerre

Fotógrafo, Repórter, Editor e Documentarista

Um dos fundadores da Mídia1508. "Ficar de joelhos não é racional. É renunciar a ser livre. Mesmo os escravos por vocação devem ser obrigados a ser livres, quando as algemas forem quebradas" ― Carlos Marighella.

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