Você sabe o que são “think tanks”? Saiba sua relação com as fake news

Parece muito complicado, mas “Think Tanks” são simplesmente instituições criadas para promover debates, pesquisas, livros, artigos e informação sobre temas como política e economia. No entanto, elas são utilizadas para influenciar a opinião pública e até difundir ideologias. Em 2010, existiam cerca de 6.846 think tanks ao redor do globo segundo o “2017 Global Go To Index Report”. Algumas delas são apartidárias, e muitas têm ligações não reveladas com partidos políticos e empresas privadas, que as financiam quando elas defendem posições de seu interesse. Para termos um exemplo histórico, no fim dos anos 60 uma instituição foi criada por militares com o nome aparentemente inofensivo de “Instituto Brasileiro de Ação Democrática” (IBAD), que na realidade encobria seu verdadeiro objetivo: combater o comunismo no Brasil, tendo relações com a CIA (Agência Central de Inteligência norte-americana).

O IBAD criou a Ação Democrática Popular (ADEP), cuja função era direcionar capital e financiar os candidatos contrários a João Goulart e anticomunistas em geral para as eleições – além de difundir propaganda anticomunista no rádio, jornais, televisão e cinema. Descobriu-se depois que estavam sendo financiadas por empresas norte-americanas. Décadas depois, nos anos 2000, a internet será a grande chave para esse tipo de atuação, reunindo especialistas em marketing e cientistas da informação para utilizá-la como meio para difundir ideias ultraconservadoras, criar personagens políticos caricatos da extrema direita – como Trump e Bolsonaro – e .

Ou seja, nesse sentido, as “fake news” ou propagadas com o fim de manipular a opinião pública e o campo político sempre existiram, porém agora, elas se utilizam de alta tecnologia como arma principal de grupos da ultradireita para chegarem ao poder – e possuem um alcance e uma sofisticação cada vez maiores. O mais sério de tudo isso é que toda a nossa navegação na internet – assim como as redes sociais, espaço mais utilizado para a disseminação das fake news – é registrada pelo Google em uma série de dados de comportamento, e esses dados cruzados indicam o que gostamos, aonde moramos, com quem nos relacionamos, que tipo de produtos compramos e outras características de nossa vida, permitindo a criação de perfis que podem ser usados para identificar por exemplo quais são militantes de ou perfis que sofrerão o assédio das . Além disso, nossa experiência na internet é totalmente direcionada para alimentar cada vez mais o mesmo tipo de conteúdo – para comprovar isso basta uma pessoa de começar a seguir e curtir conteúdos de direita, e perceberá que esse tipo de conteúdo será “oferecido” no YouTube e na página inicial do Google, por exemplo. Ou seja, se você curtir ou seguir uma única página de direita, cada vez mais ela aparecerá para você e outros conteúdos semelhantes também, fazendo com que só tenha contato com o mesmo tipo de informação. É claro que essa “bolha” pode ser furada, mas torna-se cada vez mais difícil à medida em que a polarização política é estimulada e pessoas identificadas com ideias da direita, rompem relações e deixam de se comunicar com pessoas identificadas com a esquerda e vice-versa.

Empresas e grupos atuando na disseminação de conseguiram influenciar drasticamente a política de países como Itália, Inglaterra e Estados Unidos. No não foi diferente, o processo das eleições brasileiras são resultado direto da prática de propagação de falsas notícias ou em massa. Diariamente a população era – e ainda é – bombardeada por informações falsas sobre os candidatos adversários de Jair Bolsonaro.

Investigações somente agora apontam para os crimes cometidos pela extrema direita e o chamado “gabinete do ódio”, mas não era preciso ser vidente para perceber a enxurrada de páginas no Twitter, Instagram, Facebook e YouTube a favor de difundindo informações falsas contra seus opositores. Estratégia que também foi utilizada através do WhatsApp. Um processo fraudulento ocorrido diante da complacência de todas as instituições brasileiras.

Assim, é importante sempre destacar que não contou apenas com seu grupo radical, e com empresas como a Havan e a norte-americana Cambridge Analytics para produzir fake news e ganhar as eleições. Ficou claro, inclusive em fala explícita de Michel Temer, que houve um grande acordo nacional envolvendo Supremo Tribunal Federal (STF) e as grandes empresas de comunicação para provocar o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Na falta de um candidato mais adequado com popularidade, compactuaram e contribuíram para a chegada da extrema direita ao executivo. Agora, ao sentirem-se ameaçados pelas inclinações ditatoriais de Bolsonaro, mudaram de ideia, como apontei em texto anterior.

Por fim, percebemos o gigantesco desafio que teremos que enfrentar para o combate às ideias ultraconservadoras, ultraliberais e fascistas no Brasil. Isso perpassa necessariamente por denunciar e criminalizar a prática de fake news. Além de utilizar de forma estratégica as mídias de esquerda, assim como multiplicar as ações educativas comunitárias e o debate público sobre esse fenômeno, que não é novo, mas com a internet ganhou uma proporção jamais vista.

Hannah Cavalcanti

Professora de história e escritora. Colunista da Mídia1508.

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