Leia a declaração à imprensa de Muslim Abuumar, palestino deportado do Brasil

A pergunta que a Polícia Federal fez a esse cidadão foi: “Você apoia a resistência?” Mesmo que essa resposta seja afirmativa, no Brasil apoiar a resistência do povo palestino não é crime.

Muslim Abuumar, deportado ilegalmente do Brasil junto de seus familiares no dia 23 de junho — Foto: Reprodução

O professor palestino Muslim Abuumar, que denuncia as atrocidades cometidas pelo Estado de Israel, foi deportado ilegalmente do Brasil junto de seus familiares no dia 23 de junho. Ele ficou detido com sua família no Aeroporto de Guarulhos, ameaçado de forma arbitrária e sem qualquer justificativa plausível. Muslim estava acompanhado de sua esposa grávida de sete meses, um filho pequeno e a sogra. Além disso, tem um irmão que vive no Brasil e é naturalizado brasileiro, já tendo o visitado outras vezes. A última foi no ano passado.

O irmão de Muslim, Habib Omar, escreveu uma resposta sobre a situação “Carta de um palestino que teve seu irmão deportado”, leia aqui.

Não é novidade a criminalização, ameaças e perseguição àqueles que denunciam o genocídio em curso em e a limpeza étnica na Cisjordânia. Essa ação parece ser um salto em um movimento de criminalização no Brasil. A pergunta que a Polícia Federal fez a esse cidadão foi: “Você apoia a resistência?” Mesmo que essa resposta seja afirmativa, no Brasil apoiar a do povo palestino não é crime.

Muslim não é investigado, não responde a crimes e nem é procurado internacionalmente. Portanto, nada justifica a ação arbitrária pela Polícia Federal. Sua esposa grávida chegou a passar mal e teve que ser encaminhada a um hospital. É uma violação brutal ao direito humanitário que o Brasil não deve permitir.

No texto, Muslim denuncia as violações que passou durante a detenção no aeroporto e o caráter de perseguição ao povo palestino. “Não foi fornecido nenhum advogado ou tradutor”, conta.

Abaixo, a declaração pode ser lida na íntegra.

Declaração à imprensa sobre a infeliz decisão da Polícia Federal brasileira de me proibir de entrar no país

Acabo de chegar à minha casa em Kuala Lumpur depois de uma viagem familiar malsucedida, para visitar meu irmão no Brasil, que infelizmente foi impedida pela intervenção sionista, claramente devido às minhas atividades acadêmicas em apoio à luta palestina.

Essa árdua jornada incluiu uma decisão injusta da Polícia Federal de impedir minha entrada no Brasil, emitida por ordem de um país estrangeiro imperialista que patrocina ativamente o genocídio israelense em curso em Gaza. Após minha chegada ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, na sexta-feira (21 de junho de 2024) à noite, vários policiais me abordaram na entrada do aeroporto e me levaram, junto com minha família, para interrogatório. As perguntas se concentraram em minhas opiniões políticas e atividades acadêmicas em apoio à causa palestina. Fui questionado sobre falar em conferências acadêmicas internacionais sobre a Palestina, minha participação em fóruns internacionais organizados por think-tanks internacionais e minhas opiniões sobre a em curso em Gaza. Fui muito claro ao afirmar que, como acadêmico e palestino, acredito que Israel é um regime de apartheid que está cometendo um genocídio em e deve ser levado à justiça, e que isso está de acordo com o direito internacional e com a posição do próprio governo brasileiro.

Após a sessão de interrogatório, na qual não foi disponibilizado advogado nem tradutor, os agentes de segurança do aeroporto me informaram da decisão da Polícia Federal de impedir a minha entrada e a de minha família no país e de nos deportar imediatamente para o exterior.

Recusei a ordem de deportação e pedi esclarecimentos sobre o motivo da proibição, especialmente porque tenho um visto válido de múltiplas entradas e já visitei o país anteriormente sem nenhum problema. Além disso, nunca infringi nenhuma lei brasileira e sei muito bem que o governo brasileiro não vê a como terrorismo. A essa altura, ficou muito claro que as ordens vieram de fora do país, de uma potência imperialista estrangeira que tem um longo e sombrio histórico de intromissão nos assuntos de outros países.

Nas 48 horas seguintes, com a ajuda de estimados ativistas palestinos, especialmente o diretor do Instituto Brasil Palestina, Dr. Ahmed Shehada, travei uma batalha legal contra a injusta decisão policial. Enquanto isso, vários parlamentares e ativistas brasileiros travaram uma dura batalha política e midiática contra o influente lobby sionista no Brasil. Essa guerra de narrativas ainda está em andamento.

O período de 48 horas incluiu nossa detenção forçada dentro do hotel do aeroporto e a emissão de uma ordem judicial preparada às pressas confirmando a proibição da polícia e a deportação imediata para fora do país. A polícia apresentou um conjunto de alegações fabricadas de apoio ao terrorismo, devido à minha atividade acadêmica em apoio à causa e à minha posição clara de apoio aos direitos palestinos e de denúncia da sionista terrorista da Palestina.

Infelizmente, meu advogado de defesa não teve tempo suficiente para refutar essas acusações e alegações infundadas, que simplesmente violam a própria Constituição brasileira, que estipula que o Brasil respeita o direito internacional, e a legislação brasileira, que não considera a como terrorismo.

Para mim e para os ativistas brasileiros que apoiam os direitos palestinos, a batalha ainda não terminou e continuaremos a busca legal para anular essa decisão injusta e exigir desculpas e indenização. Tenho certeza absoluta de que a justiça prevalecerá no final.

Abuumar muçulmano,
Terça-feira, 25 de junho de 2024
Kuala Lumpur.

Mídia1508

A 1508 é um coletivo de jornalismo independente anticapitalista, dedicado a expor as injustiças sociais brasileiras e a noticiar as mobilizações populares no Brasil e no mundo.

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