A indignação popular com a economia em colapso do Sri Lanka chegou ao ápice neste sábado (9), quando milhares de manifestantes invadiram a residência do presidente Gotabaya Rajapaksa e depois incendiaram a casa do primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe.
O presidente e o primeiro-ministro do Sri Lanka concordaram em renunciar após o dia mais caótico do país em meses de protestos. Rajapaksa e Wickremesinghe não estavam em suas residências quando os prédios foram atacados.
Meses de manifestações praticamente desmantelaram a dinastia política Rajapaksa, que governou o Sri Lanka na maior parte das últimas duas décadas, mas é acusada pelos manifestantes de má administração pública e corrupção. O irmão mais velho do presidente renunciou ao cargo de primeiro-ministro em maio, depois que protestos violentos o levaram a buscar segurança em uma base naval.
Com os custos do combustível impossibilitando outras formas de viagem para muitas pessoas, elas lotaram ônibus e trens para chegar à capital, Colombo, enquanto outros seguiram de bicicleta e a pé. Seguranças tentaram em vão impedir os manifestantes de atravessar as cercas para correr pelos gramados e entrar na residência presidencial.
Imagens de vídeo mostraram multidões exultantes se divertindo na piscina do jardim, enquanto alguns manifestantes emitiram declarações de uma sala de conferências exigindo que o presidente e o primeiro-ministro fossem retirados do poder por má administração econômica do país e pela escassez de alimentos e combustível.
O contraste entre o luxo do palácio e os meses de dificuldades enfrentados pelos 22 milhões de habitantes do país não passou despercebido aos manifestantes.
“Quando todo o país está sob tanta pressão, as pessoas vêm aqui para liberar essa pressão. Quando você vê os luxos nesta casa, é óbvio que eles não têm tempo para trabalhar para o país.”
Manifestante Chanuka Jayasuriya à Reuters
A pressão sobre os dois cresceu à medida que o colapso econômico desencadeou uma escassez aguda de itens essenciais, deixando as pessoas à beira da miséria lutando para comprar comida, combustível e outras necessidades básicas.
O primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe disse que ele e Gotabaya Rajapaksa deixariam o cargo assim que um novo governo assumisse, mas horas depois o presidente do parlamento, Mahinda Yapa Abeywardena, informou que Rajapaksa deixaria a presidência na próxima quarta-feira, dia 13 de julho.
O presidente do parlamento disse que o presidente decidiu renunciar “para garantir uma transferência pacífica do poder” e pediu à população que “respeite a lei”.
A polícia tentou impedir os protestos com um toque de recolher, depois o suspendeu quando advogados e políticos da oposição denunciaram a ação como ilegal.
Dezenas de pessoas ficaram feridas nos protestos de sábado. Um porta-voz do principal hospital de Colombo disse à agência de notícias AFP que três pessoas sofreram ferimentos à bala.
O Sri Lanka sofre com a inflação galopante e luta para importar alimentos, combustível e remédios em meio à pior crise econômica do país em 70 anos. O governo proibiu a venda de gasolina e diesel para veículos particulares, levando a filas de vários dias por combustível.