Lideranças do povo originário Tingui-Botó sofreram abordagem racista por PMs do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTRAN) de Alagoas, na última terça-feira (30).
Marcos Sabaru havia saído de carro da sua aldeia em Feira Nova (AL) junto com seu pai, o cacique Elizário de Campos, e outros parentes em direção à cidade de Arapiraca, quando o veículo foi parado em uma blitz. Tudo transcorria normalmente até a família informar que se dirigia para a 6ª Conferência de Saúde Indígena.
A partir daí, passaram a ser tratados com hostilidade pelos agentes. Um deles, que se identificou como sendo evangélico, foi o que agiu com mais agressividade, chegando a algemar Sabaru. Os indígenas foram conduzidos coercitivamente até a delegacia de Arapiraca, sem acusação formal. Em seguida, foram liberados, mas Sabaru ficou fichado por “desacato”.
Resquício da ditadura militar, o tipo penal “desacato ao servidor público” revela uma faceta autoritária do Estado brasileiro. Em uma comparação com os vizinhos da América Latina, fica claro que o Brasil está na contramão, pois muitos já descriminalizaram a conduta. A Argentina fez isso em 1993, o Paraguai, em 1998, a Costa Rica, em 2002, e Chile, Honduras e Panamá em 2005. A Guatemala mudou sua legislação em 2006, a Nicarágua, em 2007 e a Bolívia em 2012.
Em uma página de rede social, Sabaru se manifestou sobre o incidente. Em uma postagem mostrando duas fotos, uma delas algemado e a outra discursando na conferência a liderança escreveu “A luta contra os opressores”.
Os Tingui-Botó foram reconhecidos como grupo indígena em 1980. O povo habita a comunidade Olho-D’água, onde preserva cerca de dois hectares para realização do ritual do Ouricuri, principal emblema da sua identidade, que continuam resguardando das populações vizinhas.