Os protestos começaram no dia 25 de agosto em Jacarta, capital da Indonésia, e foram desencadeados pela indignação com o auxílio-moradia concedido aos parlamentares — quase 10 vezes o salário mínimo — e implementou simultaneamente medidas de austeridade rigorosas, incluindo cortes na educação, saúde e obras públicas. Além de demissões em massa. A morte do mototaxista Affan Kurniawan, 21 anos, atropelado por um veículo blindado da polícia durante um protesto, na quinta-feira, dia 28, provocou uma verdadeira revolta popular em todo o país.
Os manifestantes também protestavam contra o que chamaram de “elites corruptas” dentro do governo e políticas que beneficiam conglomerados e militares, de acordo com um comunicado à imprensa do grupo estudantil Gejayan Memanggil.
Prédios governamentais e sedes de polícia foram incendiados por manifestantes em todo o país, com manifestações ocorrendo na cidade de Gorontalo, na ilha de Sulawesi, em Bandung, na ilha principal de Java, em Palembang, na ilha de Sumatra, em Banjarmasin, na ilha de Bornéu, em Yogyakarta, em Java, e em Makassar, em Sulawesi.
Um estudante morreu em confrontos entre a polícia de choque e manifestantes em Yogyakarta na sexta-feira, dia 29 de agosto, enquanto um motorista de riquixá de 60 anos que sofria de asma aguda foi encontrado inconsciente após ser exposto a gás lacrimogêneo em um protesto na cidade de Solo e morreu no domingo enquanto era tratado em um hospital.
Três pessoas morreram e cinco ficaram feridas na cidade de Makassar, no leste do país, quando manifestantes incendiaram o prédio do parlamento regional durante uma sessão plenária no mesmo dia 29, de acordo com uma reportagem da CNN Indonésia. O prefeito e outras autoridades conseguiram fugir.
No último fim de semana, casas de vários legisladores foram saqueadas durante a revolta. Manifestantes invadiram a residência da Ministra das Finanças, Sri Mulyani Indrawati, perto de Jacarta, no domingo, mas foram repelidos por militares das forças armadas, informou o portal de notícias Kompas. Itens foram levados das casas do parlamentar Ahmad Sahroni e de outros dois, segundo a imprensa local.
A casa do parlamentar Ahmad Sahroni foi saqueada depois que ele disse que os pedidos para dissolver o parlamento devido aos subsídios estavam sendo feitos pelas “pessoas mais estúpidas do mundo”.

Em uma tentativa de parar as manifestações, o Partido Democrático de Luta da Indonésia e o Gerindra, partido do governo, prometeram descartar ou revisar o subsídio mensal de moradia de 50 milhões de rupias (US$ 4.600) para legisladores, juntamente com outras benefícios abusivos. O país é a maior economia do Sudeste Asiático.
O Ministério da Mão de Obra informou que 42.000 trabalhadores foram demitidos no primeiro semestre de 2025, um aumento de 32% em relação ao ano anterior, embora muitos suspeitem que o número possa ser muito maior. Os cortes de empregos estão corroendo a renda de uma classe média já em declínio.
Várias pessoas também ficaram feridas Em Bandung, cidade a três horas de carro da capital, quatro prédios, incluindo uma casa de hóspedes legislativa, foram destruídos por incêndios.
Em Jacarta, a polícia bloqueou o acesso rodoviário ao Distrito Comercial Central de Sudirman, local do prédio da Bolsa de Valores da Indonésia e sede de vários bancos internacionais.
Os manifestantes exigem a retirada de benefícios financeiros para legisladores, enquanto a população recebe baixos salários.
O número de mortes chegou a oito até ontem, 2 de setembro. Com pelo menos 1.200 detidos somente em Jacarta e uma forte presença policial e militar nas ruas.

Prabowo Subianto
Em março, a rápida aprovação da revisão de uma lei militar de 2004 foi vista como um sinal do domínio político do presidente Prabowo Subianto. Críticos afirmam que ela reflete a intenção de Prabowo de reafirmar o papel dos militares na vida civil e reverter reformas democráticas. Estudantes e ativistas protestaram na época com cartazes que diziam: “Rejeite a Lei Militar” e “Os Militares Devem Retornar aos Quartéis”.
Os movimentos estudantis da Indonésia são há muito considerados vanguardas da democracia e Prabowo conhece bem sua capacidade de mobilização.
Como ex-genro do falecido ditador da Indonésia, Suharto, a quem serviu nas forças armadas como comandante das forças especiais, acusado de graves violações dos direitos humanos, Prabowo tem experiência em primeira mão dos protestos que derrubaram o líder autoritário em 1998, após 32 anos de governo autocrático.
No sábado (30.08), ele cancelou uma viagem planejada para a China para tentar controlar a situação no país.




