Em apoio à Palestina, manifestantes queimam bandeiras de Israel e EUA e atiram pedras em consulado no Rio

Ação ocorre poucos dias após prefeitura de Eduardo Paes adotar definição de "antissemitismo" que criminaliza críticas a apartheid sofrido por palestinos.

Manifestantes queimam bandeiras dos EUA e de Israel em frente ao consulado dos EUA no Rio — Foto: Rafael Daguerre/M1508

Na última quinta-feira (9), centenas de manifestantes foram às ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro demonstrar sua solidariedade ao povo palestino, em meio ao massacre promovido pelo na e no restante da ocupada.

O ato, que contou com a presença de movimentos populares, organizações e entidades que apoiam a causa palestina, reivindicou o cessar-fogo imediato, além de boicote e sanções a Israel após mais de 10 mil mortes já confirmadas, incluindo a de milhares crianças.

Os participantes se concentraram na Praça da Candelária de onde marcharam até a porta do Consulado dos Estados Unidos, conhecidos aliados políticos e financiadores do israelense. Lá realizaram uma performance, na qual atearam fogo às bandeiras estadunidense e de Israel entrelaçadas.

Em seguida, um grupo atirou pedras contra o prédio, que fica na avenida Presidente Wilson, sendo atacado depois pela PM com bombas de efeito moral e balas de borracha. O conflito se estendeu até a Cinelândia, onde o protesto se dispersou.

Manifestantes carregam cartazes em apoio à Palestina — Foto: Rafael Daguerre/M1508

Criminalização da causa pela Prefeitura

A ação dos manifestantes se dá poucos dias após a Prefeitura do Rio, sob o comando de Eduardo Paes, se tornar a primeira no Brasil a aderir à definição de “antissemitismo” da Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês).

Em sua definição, além de tratar dos crimes dos nazistas contra os judeus durante a Segunda Mundial e de outras corretas determinações de preconceito étnico e religioso, a IHRA apresenta a seguinte descrição: “Negar ao povo judeu o seu direito à autodeterminação, por exemplo afirmando que a existência do Estado de Israel é um empreendimento racista”. Isso significa que quem denunciar o efetivo estado de que vigora contra palestinos no território ocupado por Israel, estará no mesmo patamar dos antissemitas de extrema-direita e nazistas.

Portanto, agora para cidade do Rio de Janeiro, passam a ser oficialmente consideradas como antissemitas entidades como as Nações Unidas, a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, além de muitas outras proeminentes organizações e acadêmicos – todos unânimes em classificar o Estado de Israel como um regime de apartheid.

Manifestação pró reúne centenas de pessoas no centro do Rio — Foto: Rafael Daguerre/M1508

O apartheid, termo originado da opressão sistemática dos nativos negros por parte do governo colonial sul-africano, é um crime contra a humanidade previsto no direito internacional. Em sua essência, refere-se a políticas destinadas a elevar um grupo racial sobre outro, com o objetivo de manter a hegemonia do grupo dominante. Em 1998, o Tribunal Penal Internacional ( do qual Israel não é parte ) o definiu como sendo um “regime institucionalizado de opressão sistemática e dominação de um grupo racial sobre qualquer outro grupo racial.”

Atualmente, até mesmo alguns ex- altos funcionários israelenses já admitem que esta designação se aplica perfeitamente ao seu próprio Estado. Em 2022, Michael Ben-Yair , ex-procurador-geral de Israel, disse que era “com grande tristeza” que concluía que seu país “afundou a tal profundidade política e moral que é agora um regime de apartheid.” No início deste ano, Tamir Pardo , antigo chefe da Mossad, a agência de inteligência de Israel, enfatizou, também, que o que há por lá é “um estado de apartheid”, caracterizado quando “duas pessoas são julgadas sob dois sistemas legais”. Terão Ben-Yair e Pardo se tornado antissemitas por conta dessas suas falas?

Criança carrega cartaz durante protesto em apoio à Palestina — Foto: Rafael Daguerre/M1508

A confusão entre o antissionismo (oposição ao Estado de Israel) e antissemitismo (ódio contra judeus), que instituições como o IHRA patrocinam ao redor do mundo, tem sido criticada por especialistas no Brasil.

“Diante do caráter cada vez mais indefensável das políticas israelenses em relação ao território da e seus habitantes durante o massacre que observamos em Gaza, os apoiadores de Israel insistem em desqualificar qualquer crítica direcionada a elas como manifestação antissemita” afirmam, em artigo recentemente publicado, os pesquisadores da questão palestina Bruno Huberman e Nina Galvão.

“Equiparar a crítica a políticas estatais a manifestações antissemitas tem como objetivo o estrangulamento do contestador” avaliam.

Manifestantes carregam faixa durante protesto em apoio à Palestina — Foto: Rafael Daguerre/M1508
Manifestantes queimam bandeira de Israel durante protesto em apoio à Palestina — Foto: Rafael Daguerre/M1508
Tropa de Choque da PM reprime protesto em apoio à Palestina — Foto: Rafael Daguerre/M1508

Mídia1508

A 1508 é um coletivo de jornalismo independente anticapitalista, dedicado a expor as injustiças sociais brasileiras e a noticiar as mobilizações populares no Brasil e no mundo.

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