O corpo de Moïse Kabagambe, de 24 anos, foi enterrado no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio, no domingo (30/01). O sepultamento foi marcado por muita revolta e protestos. A família de Moïse pede justiça.
A família de Moïse esteve nesta segunda-feira (31) com a Comissão de Direitos Humanos da OAB, que vai acompanhar o caso.
O caso ganhou repercussão após a família realizar uma manifestação no sábado (29) pedindo informações sobre o assassinato. O protesto na praia da Barra da Tijuca rompeu o silêncio de um crime cometido há dias.
Os parentes só souberam da morte na manhã de terça-feira (25), quase 12 horas após o assassinato. Eles ficaram ainda mais revoltados durante o reconhecimento do corpo no IML (Instituo Médico Legal).
Moïse nasceu no Congo, na África, e para fugir da guerra e da fome em seu país, veio para o Brasil em 2014 e morava com os pais e os irmãos.
Trabalhava por diárias em um quiosque perto do Posto 8. A família disse que o responsável pelo quiosque estava devendo dois dias de pagamento para Moïse e que, quando ele foi cobrar, foi espancado até a morte.
Ele cobrava R$ 200 por duas diárias de trabalho não pagas no quiosque Tropicália, na orla da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. A informação é da deputada estadual Dani Monteiro (Psol), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Segundo testemunhas, as agressões duraram pelo menos 15 minutos e foram gravadas pelas câmeras de segurança do quiosque.
A mãe está inconformada e disse que a violência foi motivada por racismo. Moïse apanhou de 5 homens que, segundo testemunhas, usaram pedaços de madeira e um taco de beisebol.
Ele foi encontrado em uma escada, amarrado e já sem vida.
O assassinato
Em entrevista à jornalistas, Yannick Kamanda, primo de Moïse, que viu as imagens da câmera de segurança do quiosque, faz um relato assustador de como aconteceu o assassinato. Yannick afirma que tudo permaneceu funcionando. O dia de trabalho continuou, mesmo com a morte de Moïse.
“O início da gravação que eu vi é ele reclamando com o gerente do quiosque. Alguns minutos seguintes, o gerente pegou um pedaço de madeira para ameaçar ele. Até então, ele estava só recuando. E o cara foi atrás dele. Como ele estava reivindicando alguma coisa, ele pegou uma cadeira e dobrou para se defender. Ele não chegou a atacar ninguém. O gerente chamou uma galera que estava na frente do quiosque. Até então tinha só um sentado”,
Yannick Kamanda, primo de Moïse
Segundo o familiar, as agressões se agravaram.
“Veio uma galera que o arremessou no chão, tentando dar um golpe de mata-leão nele. Vieram mais algumas pessoas bater nele com madeira, veio outro com uma corda, amarrou as mãos e as pernas para trás, passou a corda pelo pescoço. Ficou amarrado no mata-leão, apanhando. Tomando soco e taco de beisebol nas costelas. Até ele desmaiar”.
Yannick Kamanda, primo de Moïse
“Eles foram embora e ficou só o gerente do quiosque. E ele deitado no chão, como se nada estivesse acontecendo. Trabalhando, atendendo cliente. E o corpo lá”, afirmou Yannick Kamanda.