Manifestantes protestam contra comemoração do golpe de 64 por governo Bolsonaro

O ato também reivindicou “Fora Bolsonaro!, “Auxílio emergencial para toda a população”, “Lockdown já!” e “Ditadura nunca mais!”.

Manifestantes fazem barricadas com pneus em chamas em Maricá / Foto: Reprodução/MST-Rio

A semana foi marcada por protestos em repúdio à comemoração pelo governo Bolsonaro dos 57 anos do de 1964, que instaurou uma sangrenta ditadura de 21 anos no país.

Na madrugada do dia 1º de Abril, data do golpe, pneus e pedaços de madeira foram incendiados, paralisando o tráfego da Rodovia Amaral Peixoto, principal via de acesso a Maricá (RJ), próximo ao bairro do Flamengo. A ação foi realizada pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) e trabalhadores da educação do município.

O ato reivindicou ainda “Fora Bolsonaro!, “Auxílio emergencial para toda a população”, “Lockdown já!” e “Ditadura nunca mais!”. A manifestação se estendeu para faixas espalhadas por passarelas das principais vias de Maricá que exigiam “Vacina para todos”.

No Rio, populares e ativistas ligados a grupos como Tortura Nunca Mais, Frente Internacionalista dos Sem Teto (FIST), Casa Nem, Aldeia Maracanã, entre outros, se concentraram por volta das 15h do dia 31 de março na Cinelândia, no centro da cidade, e marcharam em direção à Central do Brasil.

No caminho, foi pixada a inscrição “FORA MILICOS” nos portões do Clube Militar, conhecido reduto de ex-agentes do regime do exceção, muitos com participação direta nos crimes praticados pelo Estado durante o período.

Manifestante pixa entrada do Clube Militar / Rafael Daguerre/Mídia1508

Também foram entoadas palavras de ordem contra o presidente Jair Bolsonaro. “Fora Bolsonaro! Tu é pior que o Satanás, veio pra matar, roubar e destruir! Fora Bolsonaro! Aqui você não se cria! Seu corrupto, homicida!” gritou um dos participantes, em um momento registrado pelas lentes da Mídia1508. Assista:

Em São Paulo, na mesma data e horário, manifestantes se reuniram no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, e seguiram até a antiga do Departamento Estadual de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo (DEOPS-SP), na Luz, região central da capital.

Presente no protesto, a aposentada Joanildes de Sousa, 73 anos, recordou os sofrimentos vividos nos chamados “anos de chumbo”: “Eu já vivi uma ditadura, não tive a oportunidade de estudar, vivi na miséria, vi morrer gente. Estamos vivendo uma segunda ditadura agora em que se morre pela doença [Covid-19] e pelo abandono do Estado” declarou à imprensa.

Foto: Caio Clímaco

Bolsonaro e militares: uma falsa oposição

As manifestações acontecem em meio à decisão, tomada na terça-feira (29/3) por Bolsonaro, de trocar os comandos das Forças Armadas. Segundo a versão que tem sido difundida pelas grandes empresas de comunicação, a mudança teria sido motivada por um suposto descontentamento dos altos escalões militares com as tendências golpistas de Bolsonaro e a gestão genocida de seu governo durante a pandemia.

Essa narrativa, no entanto, não sobrevive aos fatos. O alto comando das Forças Armadas é, pelo menos, tão responsável pelos mais de 300 mil óbitos por no quanto Bolsonaro. Vale lembrar que, há apenas uma semana atrás, o Ministério da estava a cargo de um de seus integrantes, o general Eduardo Pazuello, denunciado por apoiar a prescrição de tratamentos sem comprovação científica e por ter sido negligente no fornecimento de oxigênio para hospitais em Manaus, causando uma série de mortes por asfixia.

De acordo com o Tribunal de Contas da União, em junho de 2020 havia mais de 6 mil oficiais em cargos de nomeação política. Nenhum partido tem tantos ministérios, estatais, agências reguladoras e secretarias.

Até a segunda, 29 de março, o então ministro da Defesa, o general da reserva Fernando Azevedo e Silva assinou, nos dois últimos anos, a Ordem do Dia na data em que os militares louvam o de 64: um “marco para a democracia”, em suas palavras. No ano passado, ele sobrevoou, ao lado de Bolsonaro, uma manifestação em frente ao Supremo Tribunal Federal que pedia “intervenção militar” – leia-se golpe de Estado.

Seu substituto na pasta, o também general Walter Braga Netto, assumiu dando continuidade à tradição. Segundo sua Ordem do Dia editada no último dia 31 de março, os desdobramentos do “movimento de 1964”, que tanto sangue custou aos brasileiros, devem ser “celebrados”.

Na mesma linha segue o vice-presidente Hamilton Mourão, frequentemente retratado pela grande mídia como um contraponto mais “moderado” à Bolsonaro dentro do Planalto. “Neste dia, há 57 anos, a população brasileira, com apoio das Forças Armadas, impediu que o Movimento Comunista Internacional fincasse suas tenazes no Brasil. Força e Honra!” escreveu o general, quarta-feira em seu Twitter.

Na visão do cientista político Giuliano Nicolau, o contraste feito pela imprensa comercial entre o presidente e o alto oficialato não passa de uma “falsa oposição”: “A oposição entre Bolsonaro e as Forças Armadas é uma falsa oposição, um midiático […]. A instabilidade que Bolsonaro gera, abre espaço para os militares tomarem o governo civil em um golpe lento, gradual e seguro, de forma que nem nos damos conta e não precisam tomar de assalto.”.

“Bolsonaro continua trazendo instabilidade e lidando com a pandemia de forma genocida. Uma postura chula que acredita que a doença possa eliminar todos os indesejados e improdutivos, os pobres, os que moram nas ruas em péssimas condições sanitárias (principalmente negros), os que estão nos presídios, albergues e abrigos; os velhos e os deficientes, as crianças que vivem na marginalidade. Mais, enquanto gera a instabilidade que corrói a economia do país e nos leva a tempos medievais, aproxima a justificativa de um Estado de Sítio e coloca mais militares da cúpula em um governo civil. Não precisa ser evidente o se ele já acontece por dentro, um ‘golpe branco’.” analisa.

Mídia1508

A 1508 é um coletivo de jornalismo independente anticapitalista, dedicado a expor as injustiças sociais brasileiras e a noticiar as mobilizações populares no Brasil e no mundo.

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