A ira da população paraguaia contra a péssima gestão do governo durante a pandemia de Covid-19 chegou às ruas. Os protestos, que atingiram seu auge no início de março com intensos confrontos com a polícia, já levaram à queda do ministro da Saúde. Os manifestantes agora pedem o afastamento do presidente, o conservador Mario Abdo Benítez.
No dia 03 de março, Abdo Benítez pediu a renúncia de todos os ministros de seu governo, durante reunião com seus colaboradores mais próximos na residência presidencial de Mburuvicha Roga, para preparar um pronunciamento público, como informou o ministro das Tecnologias de Informação e Comunicação, Juan Manuel Brunetti.
Os manifestantes exigem a saída de todo o Executivo, a começar pelo próprio presidente, e não mudanças de ministros.

Com recorde de infecções, leitos de UTI lotados e um sistema de saúde em colapso, o Paraguai, assim como o Brasil, também enfrenta falta de medicamentos para tratar pacientes de Covid-19. A vacinação, além disso, avança lentamente: estima-se que apenas 0,1% da população foi imunizada.
Conflitos na capital do país
Os protestos começaram de forma pacífica, mas logo transformaram o centro histórico da capital Assunção em um campo de batalha. Segundo informações, uma pessoa morreu e outras 18 ficaram feridas.
As forças de segurança dispararam balas de borracha e gás lacrimogêneo nos arredores do Congresso, enquanto os manifestantes tentavam romper barricadas e jogavam pedras na polícia.
O foco dos distúrbios foi em uma área que inclui a sede da Polícia Nacional, a sede do Congresso e o Palácio do Governo. Durante os confrontos, a multidão gritava palavras de ordem contra o governo de Abdo Benítez.
Não há remédios e vacinas
Após o sindicato de enfermeiras e familiares de pacientes realizarem manifestações para denunciar a falta de suprimentos e materiais médicos nos hospitais públicos, especialmente entre os mais afetados pelo coronavírus, outras manifestações foram convocadas.
O ministro da Saúde, Julio Mazzoleni, renunciou após se reunir com Abdo Benítez, mas isso não serviu para aplacar a revolta dos manifestantes.
Outra indignação entre o povo paraguaio é o atraso na chegada das vacinas, que por enquanto estão limitadas às 4 mil doses do imunizante russo Sputnik V que já foram direcionadas para profissionais da saúde.
Com uma população de 7 milhões de habitantes, o Paraguai registra mais de 194 mil casos de Covid-19 e 3.700 mortes em decorrência da doença desde o início da pandemia do novo coronavírus.
Filho do braço-direito do ditador Alfredo Stroessner, Abdo Benítez foi eleito presidente em 2018, com uma campanha marcada pela defesa do liberalismo econômico e de valores conservadores.