Por Carina Blacutt
Nessa sexta-feira (31/07) e nesse sábado (01/08), em assembleia virtual, professores do município e do estado do Rio de Janeiro votaram majoritariamente a favor da greve pela vida. A greve pela vida é uma reivindicação das redes privadas e públicas contra o ensino presencial diante do cenário de pandemia.
O contexto geral da educação no Brasil é de abandono. O atual ministro da educação é desconhecido pela classe educacional, e o ministro anterior, fonte de vergonha. A educação nacional, que vive um momento de enfrentamento ao negacionismo da ciência, sente-se inserida no retrocesso.
Entre as distâncias do ensino privado e público, a greve pela vida ganha força, já que a bandeira de monitoramento da pandemia na cidade do Rio de Janeiro está no amarelo, e em várias cidades periféricas no vermelho. O posicionamento dos governos municipal e estadual, determinando a reabertura das escolas, coloca em risco a vida dos profissionais da educação e dos estudantes.
A greve pela vida, aprovada por mais de 80% da categoria, demonstra o descontentamento dos profissionais da educação com o atual governo do Rio de Janeiro, que vive um momento conturbado de processo de impeachment do governador Wilson Witzel. O que parece é que a determinação de abertura das escolas serve mais para atender a imagem pública do governador, que tenta mostrar trabalho, do que a educação em si.
Importante ressaltar, que durante a assembleia do sindicato, diversos profissionais questionaram a forma que está sendo aplicado o ensino remoto. Apesar de existirem plataformas públicas, já utilizadas por outras instituições de ensino estaduais, a secretaria de educação do estado do Rio, representada pelo secretário Pedro Fernandes, utiliza plataforma privada.
Além disso, a obrigatoriedade de cumprimento de carga horária na plataforma do Google sobrecarrega o professor, que muitas vezes se vê tendo que permanecer em frente ao computador por 10 horas seguidas, causando problemas de saúde não só físicos, mas mentais. Com adesão de menos de 30% do alunado, os educadores se encontram ameaçados quanto a redução salarial, caso não realizem o ensino remoto.
Completando quase 7 anos com salário congelado, o profissional de Educação do Rio de Janeiro adoece enquanto testemunha o processo de falência do Estado. Com grande parte dos alunos sem acesso ao ensino remoto, a educação do Rio de Janeiro, no contexto de pandemia, é excludente por que não contempla o corpo docente e discente.
—
Carina Blacutt é filósofa e professora da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, doutoranda em Estética e Filosofia da Arte pela UERJ e colunista de educação da Mídia1508.