Nesta sexta-feira, no município de João Ramalho, em São Paulo, a Polícia Militar invadiu uma casa e agrediu um jovem negro com mata-leão, deixando-o sem ar. No vídeo, o jovem não apresenta qualquer resistência, mas o policial continua o enforcando. O registro, feito por um amigo, relata:
“Invadiram dentro de casa, olha o que estão fazendo com o moleque. Tá passando falta de ar.”
O rapaz que filma a agressão grita várias vezes para deixar o jovem respirar, sendo ignorado e ameaçado. O registro foi compartilhado nas redes sociais.
Segundo jornais locais, a PM invadiu a casa porque dois jovens conduziam uma motocicleta sem placa e não obedeceram uma ordem de parada. A ação da PM foi um evidente abuso de poder e poderia levar mais um jovem preto à morte.
Os dois jovens foram levados a um distrito policial, e a PM registrou um boletim de ocorrência por desacato, desobediência e resistência. Depois os jovens foram liberados e o condutor, que sofreu o mata-leão, foi autuado por infrações de trânsito. A moto foi recolhida até que se pague as infrações.
Recentemente um morador de Alphaville, condomínio de alto padrão na Grande São Paulo, que era suspeito de violência doméstica contra a mulher durante a quarentena, apareceu em um vídeo ameaçando agredir um policial militar, dizendo que ganha “R$ 300 mil por mês”, o chama de “lixo” e xinga ele e uma policial. Nada aconteceu, nenhuma agressão ou mata-leão.
A violência da polícia tem alvo, cor e classe social
O debate sobre o racismo institucional tem aumentado. Este ano, após o assassinato de George Floyd por um policial, em Minneapolis, nos EUA, manifestações antirracistas explodiram em todo o mundo.
Em 2013, na cidade de Campinas, um capitão da PM pede a intensificação do policiamento em ruas próximas a um colégio aos sábados “focando em abordagens a transeuntes e em veículos em atitude suspeita, especialmente indivíduos de cor parda e negra com idade aparentemente de 18 a 25 anos”.
Em 2012, segundo uma pesquisa da Anistia Internacional, 56.000 pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas, 30.000 são jovens entre 15 a 29 anos e, desse total, 77% são negros. A maioria dos homicídios é praticado por armas de fogo, e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados.
Ano passado, imagens publicadas em uma rede social do Batalhão de Ações Especiais de Polícia de São José do Rio Preto, mostram PMs atirando contra alvos com a inscrição “favela”. Um dos PMs atira a queima roupa.
A violência da PM de São Paulo em 2020
De janeiro a maio deste ano, 442 pessoas foram mortas por policiais militares no estado de São Paulo, maior número para o período desde o início da série histórica, em 2001. Também houve aumento de 34% no número de mortos em batalhões da capital paulista. Para especialista, o aumento reforça que não são ‘casos isolados’. Vale ressaltar que esse aumento ocorre em plena pandemia.
O número de pessoas mortas por policiais militares dentro e fora de serviço no estado de São Paulo de janeiro a maio de 2020 é o maior de toda a série histórica iniciada em 2001: 442 vítimas.
O total deste ano ultrapassou o número de mortos por PMs em 2003, com 409 mortes em decorrência de intervenção policial, segundo a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.
O número de mortos por policiais de batalhões das cidades da Grande São Paulo, com exceção da capital paulista, aumentou 70% de janeiro a maio de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019, com base em dados da Corregedoria da Polícia Militar no Diário Oficial.
Destaque-se que estes são números oficiais. O número deve ser ainda maior.