Manifestantes montaram uma “zona livre de policiais”, na cidade de Seattle, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos. A área autônoma, cercada por barricadas, se estende por seis quarteirões no bairro de Capitol Hill, incluindo o de um dos distritos policiais da cidade. O local foi palco de protestos – e de brutal repressão – por mais de uma semana, após o assassinato de George Floyd pelo policial Derek Chauvin em Mineapolis, Minessota no último dia 25 de maio.
A delegacia agora está coberta por tábuas de madeira, completamente desativada. Em uma das barricadas que marcam os limites da ocupação há uma placa com o aviso: “você está entrando na área livre de Capitol Hill”. Nas paredes, diversas pixações que dizem “zona livre de policiais”. Um outro grafite, no letreiro do edifício, transformou o departamento de polícia em “departamento do povo” de Seattle.
Em vários pontos, cartazes expõem as demandas do movimento: fim do finaciamento para a polícia, aumento de verbas para saúde e para a segurança comunitária, com patrulhas formada por moradores, e a retirada de todas as acusações contra os manifestantes.
A decisão de evacuar o prédio foi tomada pela prefeita da cidade, Jenny Durkan, esta segunda-feira (8), um dia após os conflitos entre policiais e manifestantes terem atingindo o seu momento mais intenso. Durante o domingo (7), um homem jogou seu carro contra os participantes de uma manifestação e atirou no braço de Daniel Gregory, que se interpôs entre o atirador e a multidão para protegê-la. Em seguida, o agressor, Nikolas Fernandez, deixou o seu veículo e caminhou tranquilamente em direção aos policiais, que sequer o prenderam em flagrante.
A cena, que foi filmada pelos ativistas, provocou comoção nas redes sociais. Gregory, um jovem preto de 27 anos, passou a ser aclamado pelos integrantes do movimento #BlackLivesMatters (“#VidasNegrasImportam”) como um herói nacional.
Revoltados com ocorrido, os companheiros de Gregory em Seattle tentaram avançar em direção à delegacia East Precint pela parte da noite, mas foram duramente repelidos pelos policiais, com bombas de gás e balas de borracha, ao que reagiram atirando objetos e rojões.
Na dia seguinte, foram surpreendidos pela retirada dos policiais. A princípio desconfiados, logo trataram de ocupar as ruas antes bloqueadas pela repressão, estabelecendo uma espécie de comuna auto-gerida. Grupos de trabalho dividem funções como a limpeza, a manutenção dos banheiros, a distribuição de comida e água, etc.
“Os policiais sempre serão racistas porque o capitalismo exige desigualdade”, um dos cartazes da área.
Por volta da 10:30 da noite de ontem, a zona autônoma recebeu a visita da vereadora Kshama Sawant, representante de Capitol Hill no Conselho da Cidade de Seattle. Após saudar a ocupação, que qualificou como uma “vitória”, a parlamentar, do partido Alternativa Socialista, anunciou que vai propor um projeto legislativo cortando 50% do orçamento policial.
A iniciativa, no entanto, foi considerada insuficiente por alguns dos integrantes do movimento. Os mestres de cerimônia do ato – em sua maioria homens pretos – reagiram respondendo que 50% não é 100% e perguntando “de que lado” Sawant estava. A política respondeu que não poderia fornecer uma resposta simples para questão de como pôr fim à polícia dentro de uma sociedade capitalista e que quem quer que se proponha a fazer isso está mentindo.
Para a anarquista Laura, uma das testemunhas da emergência da zona livre de Capitol Hill o que motiva a experiência é justamente fugir à dinâmica do Estado e do capitalismo:
“No meu entender, uma zona autônoma é uma área em que a autoridade do Estado foi conscientemente rejeitada. O que torna esse bloqueio em Capitol Hill autônomo é que a polícia foi expulsa e as pessoas estão livres para se autogestionarem. Um grande efeito colateral é que as pessoas podem simplesmente sair e viver ao contrário do resto do capitalismo, que nos obriga a estar sempre consumindo ou trabalhando, em uma ocupação como essa você pode apenas ser, é incrivelmente libertador.” afirma, em depoimento à página Industrial Worker.
[…] exemplo concreto forjado na revolta são o surgimento de zonas autônomas, onde não entram policiais, nos fazendo lembrar a grande inspiração do EZLN no […]