Mototaxista é assassinado em ação da PM na Rocinha

Amigos do mototaxista disseram que não havia operação e no local do tiroteio só havia cápsulas das armas usadas pela polícia.

Joseleno Soares da Silva, de 27 anos / Foto: Reprodução

Em mais um assassinato da PM carioca, a família de Joseleno Soares da Silva, de 27 anos, precisou esclarecer que o jovem trabalhador não tinha envolvimento com o crime e acabar com a justificativa da polícia – ainda que não se justifique.

O rapaz foi assassinado na Favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio, na madrugada desta segunda-feira (6). Segundo parentes, Joseleno é natural de Timbó de Jacaraú, na Paraíba, e veio para o para tentar ter uma vida melhor. Atualmente, trabalhava como mototaxista na favela. Mais duas pessoas foram baleadas pela polícia, inclusive outro mototaxista, colega de Joseleno. Douglas, que estava na carona da moto de Joseleno, está em observação. Wilten Berguer Lima, o outro mototaxista, está em estado grave. Os dois estão no hospital Miguel Couto.

Mais uma vez, a PM alega que agentes se envolveram em um confronto após serem “recebidos a tiros” e que, depois, “três feridos foram encontrados e também socorridos ao Hospital municipal Miguel Couto”. Moradores e da desmentem a versão oficial apresentada pela UPP da Rocinha.

Amigos do mototaxista disseram que não havia operação e no local do tiroteio só havia cápsulas das armas usadas pela polícia. Eles também denunciaram que os documentos e os celulares das vítimas sumiram.

“Eles vinham descendo, viram o garoto de mochila, já deram tiros. Tem várias cápsulas, só do fuzil da polícia. Não tem cápsula de pistola, de AK-47. Não tinha confronto nenhum”, contou um mototaxista.

De acordo com testemunhas, por volta das 2h da madrugada Joseleno e outras duas pessoas foram baleadas. Na região, o serviço de mototáxi trabalha 24 horas por dia.

“A família está destroçada. Éramos 14 irmãos. Já liguei para meus pais (que moram na Paraíba) para dar a notícia. Minha mãe nem conseguiu falar”, lamentou Adriano, de 37 anos, irmão de Joseleno. “É indigno que uma pessoa que trabalha morra assim. Ele sonhava em criar o filho de 10 meses e ter a própria casa”, conta um parente que não quis se identificar.

Joseleno Soares da Silva, de 27 anos

Na manhã do mesmo dia, um grupo de amigos, colegas de trabalho e parentes fizeram um em frente à Rocinha, contra a morte de Joseleno.   Mototaxistas que trabalham na fizeram uma homenagem ao colega Joseleno Soares nesta terça-feira (7). Dezenas de mototaxistas se reuniram para o velório de joseleno na capela da e em seguida acompanharam o carro que levava o corpo do colega até o aeroporto para ser enterrado na Paraíba, onde ele nasceu.

“Eles acham que todo mundo que tá dentro da é bandido ou que tem alguma envolvimento com o tráfico. É muito triste pra gente ver um colega de trabalho, uma pessoa do bem, morrer dessa forma”, disse uma colega.

Número de mortos pela bate recorde histórico

O Rio de Janeiro apresenta crescimento da letalidade policial desde que Witzel tomou posse como governador do estado em 1º de janeiro de 2019. No primeiro trimestre deste ano, já foram registrados 434 homicídios decorrentes de intervenção policial, uma média de quatro por dia.

Segundo um levantamento com base em dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), o número de mortos classificados como “em confronto” nos primeiros 90 dias de 2019 é o mais alto entre os registrados nos 85 trimestres desde 1998, quando começou a contabilizar o tipo de estatística no estado.

Cinco dos oito trimestres com mais casos desde o início da série histórica são justamente os cinco mais recentes: os quatro de 2018 e o primeiro de 2019. Em comparação com os primeiros três meses do ano passado, o mesmo período deste ano apresentou um aumento de 18% nas mortes. Antes de 2018, ano da na segurança pública, o estado nunca havia ultrapassado a marca de 400 mortes pelas mãos de policiais em três meses.

Rafael Daguerre

Fotógrafo, Repórter, Editor e Documentarista

Um dos fundadores da Mídia1508. "Ficar de joelhos não é racional. É renunciar a ser livre. Mesmo os escravos por vocação devem ser obrigados a ser livres, quando as algemas forem quebradas" ― Carlos Marighella.

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