Pelo menos 31 pessoas foram assassinadas e mais de 100 ficaram feridas durante protestos generalizados contra o governo no Quênia esta semana, em uma grande escalada de manifestações contra o governo do presidente William Ruto. As manifestações, realizadas na última segunda-feira, 7 de julho, para marcar o aniversário do movimento pró-democracia “Saba Saba”, de 1990, tornaram-se violentas quando as forças de segurança entraram em confronto com milhares de manifestantes em várias cidades.
O dia 7 de julho, conhecido como Saba Saba, é uma data significativa na história do Quênia, marcando os primeiros grandes protestos, há 35 anos, que apelaram ao então presidente Daniel Arap Moi — mentor de Ruto — por uma transição de um Estado unipartidário para uma democracia multipartidária, o que foi concretizado nas eleições de 1992. Saba Saba significa “Sete Sete” em suaíli.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia (KNCHR), um órgão independente, relatou o número de vítimas na terça-feira (8), confirmando 31 mortes, 107 feridos, dois casos de desaparecimento forçado e a prisão de mais de 500 pessoas. A comissão condenou o que descreveu como “uso grosseiro e desproporcional da força” e pediu responsabilização pelas violações de direitos humanos.
Os protestos são liderados principalmente por jovens quenianos, muitos deles oriundos de centros urbanos, cada vez mais frustrados com a inflação crescente, o desemprego, e a elite política do país. Manifestantes marcharam pelas ruas de Nairóbi, Kisumu, Mombasa e Eldoret, entoando slogans contra Ruto e exigindo o fim do seu governo, que descrevem como uma crise crescente de custo de vida e brutalidade policial.
A repressão policial atacou com violência, utilizando gás lacrimogêneo, canhões de água, balas de borracha e armas de fogo em diversas áreas. Grupos de direitos humanos e a imprensa local divulgaram imagens de manifestantes feridos e pessoas carregando vítimas da polícia.

O governo manteve sua resposta em termos de segurança. O Ministro do Interior, Kipchumba Murkomen, em declaração à imprensa, descartou os protestos como uma “tentativa orquestrada de desestabilizar o país”, classificando-os como uma “revolta criminosa disfarçada de movimento civil”. Ele acrescentou que as autoridades apresentaram acusações relacionadas ao terrorismo contra 37 pessoas presas nos protestos.
O presidente queniano William Ruto disse que “qualquer pessoa que saque ou vandalize empresas deveria ser baleado nas pernas e tratado pelos tribunais depois”. Estas foram as suas primeiras palavras após os protestos de segunda-feira (7) em que dezenas de pessoas foram mortas.
A tensão já havia aumentado nas últimas semanas após a morte do popular blogueiro Albert Ojuang, de 31 anos, que morreu sob custódia policial. Ojuang era conhecido por ser um crítico do governo em relação a questões sociais. Um relatório de patologia independente revelou que ele foi assassinado, espancado até a morte em uma cela da polícia. Seu caso desencadeou um movimento de protesto liderado por jovens que culminou em manifestações em massa no mês de junho, que deixaram 19 mortos, segundo dados oficiais. Sua morte se tornou um ponto de encontro para o que agora está sendo descrito como uma revolta popular.
Jornais quenianos noticiaram que pelo menos 140 pessoas foram mortas pela violência policial em manifestações desde 2023. Diversos veículos, incluindo The Star e Daily Nation, compararam a repressão atual com as táticas de unidades de segurança conhecidas por execuções extrajudiciais. O presidente Ruto havia prometido dissolver essas unidades em sua campanha, mas críticos dizem que pouca coisa mudou na prática.

Apesar do crescente descontentamento, o presidente Ruto mantém uma maioria parlamentar firme, o que o isola de qualquer consequência política imediata. Seu governo tem buscado conter a agitação com promessas de programas sociais, programas de criação de empregos e investimentos em infraestrutura, mas a maioria da população permanece exigindo sua renúncia.
Os protestos representam um teste significativo para a liderança de Ruto, apenas dois anos antes das próximas eleições gerais em 2027. Embora a oposição permaneça fragmentada, o aumento da mobilização política liderada por jovens — impulsionada por frustrações econômicas e amplificada pelas redes sociais — introduziu uma nova dinâmica no cenário político do Quênia.
Como as tensões provavelmente não diminuirão no curto prazo, todos os olhos estão agora voltados para o próximo passo do governo — e se ele escolherá o diálogo ou mais repressão enquanto enfrenta um momento de crescente descontentamento nacional.




