Já se passou duas semanas desde o início dos protestos no Equador contra a decisão do governo de direita de Daniel Noboa de eliminar o subsídio ao diesel e, até o momento, quase 100 pessoas foram detidas e uma pessoa foi morta pela repressão policial. Os protestos nacionais começaram depois que Marlon Vargas, presidente da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), o movimento social mais importante do Equador, convocou todos os setores da sociedade a irem às ruas e rejeitarem a medida de Noboa.
Em 28 de setembro, foi divulgada a notícia de que o trabalhador Efraín Fueres, de 46 anos, morreu durante os protestos em Cotacachi, na província de Imbabura. Segundo a CONAIE, Fueres foi morto pelos militares após ser baleado três vezes. “Exigimos verdade, justiça e reparação. Este crime de Estado não ficará impune. Não há volta nem perdão para os crimes de Estado”, escreveu a CONAIE no X.Fique informado!Insira seu e-mail para receber um resumo semanal de nossas melhores postagens.
Além disso, um vídeo mostra como um dos companheiros de Fueres tentou ajudá-lo após o tiroteio, levando um grupo de soldados a começar a espancá-lo, chutá-lo e apontar seus rifles para ele, o que causou indignação nas redes sociais.
Por sua vez, as Forças Armadas informaram que, após os confrontos, 12 soldados ficaram feridos e outros 17 estão detidos por comunidades indígenas.
Violações dos direitos humanos
De fato, a resposta radical do governo Noboa aos protestos levou diversas organizações de direitos humanos a se manifestarem. A Relatora Especial da ONU, Gina Romero, observou que o poder executivo iniciou uma repressão ao movimento indígena, às organizações sociais e aos manifestantes em geral. Ela também declarou: “Recebi relatos de que as Forças Armadas Equatorianas estão agindo em contextos de protesto, o que é contrário aos padrões internacionais sobre o direito de reunião, mesmo em estados de emergência. Cessar-fogo contra os manifestantes! Protestar é um direito, não pode custar vidas.”
Por sua vez, a Fundação Regional de Serviços de Aconselhamento em Direitos Humanos (INREDH) emitiu um comunicado alertando: “Rejeitamos veementemente o uso letal e ilegítimo da força contra manifestantes e povos indígenas que exercem seu direito de protestar. Ressaltamos que os povos e nacionalidades indígenas têm proteção especial reconhecida na Constituição e nos instrumentos internacionais de direitos humanos.”
Em 28 de setembro, a Aliança de Organizações de Direitos Humanos anunciou que um comboio militar de 100 veículos estava se dirigindo para Imbabura, vindo da capital, Quito, causando grande ansiedade entre os manifestantes. Além disso, foi relatado que os serviços de internet e telefonia celular foram suspensos em várias cidades de Imbabura, o que foi fortemente criticado por organizações de direitos humanos.

A criminalização dos indígenas como “terroristas”
O governo lançou uma campanha para rotular os manifestantes como “terroristas”, algo que a CONAIE e outros grupos de protesto rejeitam veementemente. Segundo eles, essa é uma estratégia midiática para deslegitimar os protestos sociais e justificar a repressão excessiva contra aqueles que ousam protestar contra o governo.
A esse respeito, Sofía Torres, porta-voz de Yasunidos, falou com o veículo de comunicação Peoples Dispatch e afirmou que a estratégia discursiva do governo já vinha sendo elaborada há algum tempo: “A repressão se baseia em um discurso que o governo vem construindo há meses, no qual qualquer voz de oposição é retratada como inimiga nacional: traficantes de drogas e criminosos rotulados como terroristas. Sem qualquer evidência, os Ministros Reimberg e Rovira alegaram que há vínculos com grupos terroristas e economias criminosas, o que justificaria o nível de violência usado para reprimir os manifestantes.
Ela acrescentou: “No entanto, organizações comprovaram que as declarações do governo são falsas e que leis recentemente aprovadas estão sendo usadas para perseguir líderes, defensores e organizações sociais cujas contas bancárias foram congeladas e que agora enfrentam uma investigação arbitrária do Ministério Público. Noboa trata os cidadãos que protestam como terroristas, considerando o número de detidos como conquistas a serem apresentadas.”
Qual é o futuro da greve?
Torres argumenta que as características da atual greve nacional são diferentes daquelas dos últimos anos, quando o movimento indígena realizou dois levantes populares massivos contra as políticas neoliberais de Lenin Moreno (2017-2021) e Guillermo Lasso (2021-2023), o que fez com que ambos os governos recuassem em suas intenções: “A greve nacional de 2025 é diferente daquelas que vivenciamos em 2019 e 2022. O epicentro das mobilizações não está em Quito, mas nas províncias de Imbabura e Cotopaxi, para onde a vice-presidência e a presidência foram realocadas, respectivamente. A cada dia, mais comunidades se juntam, e a indignação da população cresce apesar das tentativas de desmobilização dos territórios. A estratégia de criminalização, perseguição e forte repressão, em vez de desencorajar as pessoas, serviu para alimentar a rejeição a Noboa.”
Sobre a capacidade dos manifestantes de suportar mais dias de ação das forças de segurança, Torres afirma: “Neste momento, os esforços estão concentrados em apoiar os territórios mobilizados para sustentar a greve, que se tornou um espaço de protesto, reflexão e visibilidade das consequências das leis, políticas e medidas de Noboa. A greve reúne demandas de trabalhadores, ambientalistas, feministas, grupos culturais, povos e nacionalidades indígenas, profissionais da saúde, educadores e trabalhadores da comunicação. Os apelos à ação em todo o país continuam nesta segunda semana de greve, enquanto estratégias são buscadas para acompanhar e apoiar os defensores que o governo criminalizou.”
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Fontes:
One dead and nearly 100 arrested amid heavy repression of protests in Ecuador
Violent clash over fuel prices in Ecuador leaves 1 protester dead and 12 soldiers injured
Indigenous-Led Movement Against Austerity Is Gaining Momentum in Ecuador