#8M – Milhares de mulheres protestam no Centro do Rio

Brasil teve um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada 7 horas em 2021, segundo um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) publicado nesta segunda-feira (7).

Mulheres de favelas do Rio carregam faixa "Parem de Nos Matar" durante o ato — Foto: Rafael Daguerre/1508

Milhares de mulheres protestaram nesta terça, dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, contra a cultura machista do patriarcado, que gera feminicídios todos os dias, e em repúdio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ocorreram manifestações em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e outras regiões do país. No Rio, a manifestação se concentrou na Candelária e caminhou até a Cinelândia, centro da cidade. Com faixas e cartazes, as mulheres denunciaram as diversas formas de opressão machista.

Em São Paulo, as manifestantes se concentraram na Avenida Paulista e tinham como lema o “Fora Bolsonaro!”, presidente que tem um histórico de comentários machistas e homofóbicos.

Em Brasília, onde as manifestantes, com a presença de movimentos de esquerda e estudantis, marcharam até o Congresso. “Pela vida das mulheres. Pelo fim do racismo e machismo. Lutamos por comida, emprego, e educação”, dizia a faixa principal do ato na capital.

Brasil teve um a cada 10 minutos e um a cada 7 horas em 2021, segundo um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) publicado nesta segunda-feira (7).

Os números são oficiais. É bom destacar que pode ser ainda pior. O documento foi elaborado a partir dos boletins de ocorrência das Polícias Civis das 27 unidades da federação. O FBSP relata ainda um aumento nos crimes contra meninas e mulheres durante a  da Covid-19.

Os dados mostram que houve 56.098 estupros — inclusive de vulneráveis — do gênero feminino, em todo o país. Já os casos de foram 1.319 vítimas em 2021 e 1.351 em 2020. Nos últimos três anos, de 2019 a 2021, o país registra uma média de mais de 57 mil casos de estupro.

Mulheres e movimentos sociais durante o protesto no Rio — Foto: Rafael Daguerre/1508

A história do 8 de março *

Neste dia celebra-se o Dia Internacional da Mulher. A origem histórica do Dia da Mulher [Trabalhadora] está ligada às lutas das mulheres por melhores condições laborais, sociais e para alargar o espectro dos seus direitos, que se tornaram mais notórias no séculos XIX e XX.

O Dia da Mulher Trabalhadora foi assinalado pela primeira vez em 28 de fevereiro de 1909 em Nova York. Em 1910, Clara Zetkin e outras delegadas comunistas alemães propuseram à conferência internacional de mulheres socialistas que se celebrasse um dia anual da mulher trabalhadora.

A decisão de celebração surgiu de diversos grupos e contextos de esquerda radical, para inserir a mulher na luta por uma sociedade justa, e para honrar o papel que teve nas lutas emancipatórias, que foi constantemente negligenciado.

No dia 8 de Março de 1917 (23 de fevereiro no calendário juliano), trabalhadoras têxteis iniciaram uma devido à escassez de alimentos em Petrogrado, na Rússia. A gritos de “Pão e Paz!” as grevistas ocuparam as ruas e apesar da brutalidade com que foram recebidas, o protesto é reconhecido como um dos fatores que desencadeou a Revolução Russa de Fevereiro. Sete dias depois o Czar recuou e as mulheres conquistaram o direito de voto. Após a Revolução de Outubro, Alexandra Kollontai e Vladimir Lênin declararam o dia feriado oficial na URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

Nos anos 20, o dia da mulher passou a ser celebrado pelos movimentos comunistas e anarquistas de todo o mundo.

Em 1936 celebrou-se o dia pela primeira vez na Espanha, logo após a eleição de Frente Popular e pouco antes do começo da guerra civil espanhola, com uma grande manifestação organizada por Dolores Ibárruri, uma importante dirigente comunista.

Mais de 50 anos depois, a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiria o Dia Internacional da Mulher, deixando cair o “trabalhadora”, para englobar mulheres das classes dominantes. Mesmo no seio da luta de esquerda radical, é frequente o constrangimento e a opressão da mulher, inibida por normas sociais, pela sensualização da sua imagem (inclusive da mulher revolucionária), pelo descaso do papel que sistematicamente desempenha na reprodução social da classe trabalhadora, por todos os encargos que lhe foram sendo incumbidos etc.

Em 1922 foi celebrado pela primeira vez na China pelos comunistas e estes em 1927 organizaram enormes manifestações em Guangzhou, Wuhan e Beijing para protestar contra a recusa do governo em dar direito de voto às mulheres. Depois da proclamação da República Popular da China em 1949, o dia da mulher trabalhadora foi proclamado feriado.

No Brasil o dia passou a ser celebrado oficialmente a partir de 1980, além do dia nacional da mulher em 30 de abril. Hoje, apesar da apropriação comercial por parte de muitas empresas, o dia internacional da mulher continua a ser um dia de comemoração pelas conquistas do passado, mas também de combate e luta ainda hoje. A persistência de uma única forma de opressão é suficiente para que haja uma comunidade oprimida. Não haverá revolução sem o fim da opressão machista e patriarcal.

O envolve muito mais do que apenas igualdade de gênero. E envolve muito mais do que gênero. O feminismo deve envolver uma consciência do capitalismo (quero dizer, o feminismo com o qual me relaciono, existem vários). Tem que implicar uma consciência do que é o capitalismo, o racismo, o colonialismo, o pós-colonialismo, capacitismo e que existem mais gêneros do que podemos imaginar, e mais sexualidades do que jamais pensamos que poderíamos nomear.

Angela Davis

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* Texto por História da Classe Trabalhadora

Mídia1508

A 1508 é um coletivo de jornalismo independente anticapitalista, dedicado a expor as injustiças sociais brasileiras e a noticiar as mobilizações populares no Brasil e no mundo.

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