Estudante é assassinada durante ação da PM no centro do Rio

A ação, no mínimo irresponsável, deixou ainda três pessoas feridas, duas delas sem qualquer relação com a perseguição.

Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

A estudante universitária Lady Ane Paulino Targino, de 34 anos, foi morta com um tiro na cabeça durante uma perseguição de policiais militares a um carro, na noite de quinta-feira (22) no centro do Rio. A jovem, que morava no Morro da Mineira, estava fechando um trailer, no qual vendia churrasquinho para complementar a renda, na Rua Frei Caneca, próximo à Praça da Apoteose, no momento do disparo.

A ação deixou ainda três pessoas feridas, duas delas sem qualquer relação com a perseguição. Um homem identificado como Nilton, que estava no Túnel Martim de Sá, também foi baleado e levado para o Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro. Outra pessoa foi atingida na Rua e encaminhada para a mesma unidade de saúde. Além dos dois, um dos ocupantes do veículo também foi alvejado e conduzido para o Souza Aguiar, onde permanece sob custódia.

Irmã de Lady Ane, Viviane Paulino Targino, de 35 anos, havia conversado com ela três horas antes da tragédia. Ela conta que a jovem comemorava um mês do novo negócio, o trailer de churrasquinho.

Lady Ane se revezava nas vendas com a namorada, Kenia Paixão, com quem tinha união estável, e um amigo.

“Ontem (quinta-feira) ela estava especialmente feliz. As mesas estavam todas ocupadas, na hora em que a gente chegou, e ela estava comemorando o sucesso. Ela serviu meu filho e me serviu. Três horas depois, aconteceu a tragédia”, declarou à imprensa Viviane, que é servidora da Defensoria Pública estadual do Rio.

A vítima morava com o pai, Antônio Targino, no Morro da Mineira e comprou um apartamento no com o objetivo de tirá-lo da favela. Antônio ainda não se havia refeito da dor de perder a esposa, Josefa Paulino, há quatro anos, após ser diagnosticada com câncer no cérebro.

Nascido na Paraíba, Targino chegou ao Rio aos 17 anos. Ele começou a trabalhar com obras, mas depois tornou-se porteiro de um prédio no qual trabalha há mais de 20 anos. Apesar de ter tido pouca escolaridade, incentivou as filhas a estudarem. Viviane formou-se em moda. Lady Ane conseguiu uma bolsa integral para estudar Administração no IBMEC, mas trocou o curso pela faculdade de Letras, na UFRJ, que também acabou não concluindo. Por fim, encontrou no Direito sua vocação.

Em agosto do ano passado, ela passou em um concurso para a prefeitura de Maricá, onde trabalhava como fiscal de postura e transporte da Secretaria municipal de Transporte.

“Quando ela passou para o concurso de Maricá, achamos que fosse ficar satisfeita. Mas ela queria mais. Queria dar uma vida melhor para o meu pai”, conta a irmã.

O corpo da jovem assassinada foi sepultado às 16h de ontem, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul da cidade. Durante o enterro, o pai da jovem teve pressão alta e precisou ser amparado.

A UFRJ, em nota, se solidarizou com a família e os amigos. “Além da de COVID-19, ainda somos forçados a conviver com a dura violência no estado do Rio de Janeiro”, diz um trecho da nota.

Nas redes sociais, o amigo Thiago Marreiro Tomaz descreveu Lady como uma sonhadora e deixou uma mensagem emocionada: “Que continue brilhando, Lady, em paz, porque és um astro e continuarás nos aquecendo e iluminando sempre. Te amo”, escreveu ele em um post


Mídia1508

A 1508 é um coletivo de jornalismo independente anticapitalista, dedicado a expor as injustiças sociais brasileiras e a noticiar as mobilizações populares no Brasil e no mundo.

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