Luciano Macedo, que trabalha como catador para reciclagem, está em estado grave no Hospital Estadual Carlos Chagas, depois de ser baleado ao tentar ajudar a família que estava no carro que foi fuzilado por mais de 80 tiros disparados por militares do Exército, no bairro de Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro.
O músico Evaldo Rosa dos Santos, de 51 anos, morreu pelo fuzilamento dos militares, com nove tiros, três na cabeça, segundo a perícia.
Luciano permanece no Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, zona norte do Rio. O estado de saúde do catador de materiais recicláveis é bastante grave em razão do tiro que acertou o seu pulmão. A juíza de plantão Maria Izabel Pena Pieranti acabou de determinar a transferência de Luciano Macedo para o Hospital Municipal Doutor Moacyr Rodrigues do Carmo, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Luciano necessita de uma cirurgia devido a complicações nos pulmões provocados pelos tiros e o Hospital Carlos Chagas não têm condições de operá-lo. Se a decisão não for cumprida, ele será transferido para um hospital particular e o estado e o município terão que arcar com as despesas.
De acordo com a advogada da família, Maria Isabel Tancredo, o estado de Luciano é gravíssimo e a transferência deve acontecer com urgência. “Luciano respira por ventilação mecânica, usando dreno de tórax e sedativos. Ele apresenta febre recorrente, sinalizando quadro de infecção generalizada, o que pode ser fatal. A decisão estipula um prazo de seis horas, a partir da intimação do estado e do município do Rio, para a transferência, o que deve acontecer muito em breve”, disse.
Ele será submetido a uma traqueostomia entre hoje e amanhã e está com um estado febril, o que demanda o uso de antibiótico mais potente para combater a uma possível infecção generalizada.
A mãe de Luciano, a trabalhadora Aparecida Macedo, passou 40 minutos chorando e afagando o filho. Luciano tem uma tatuagem no braço esquerdo com o nome da mãe. As notícias falsas referentes à morte de Luciano causaram forte dano emocional à sua família, que não descansou até ser informada pelo hospital que ele se encontrava vivo.
Sobre o caso
Na tarde do dia 7 de abril, militares do Exército mataram o cavaquinista Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, após realizarem mais de 80 disparos contra o carro que o músico dirigia, onde estava também sua família e uma amiga, em Guadalupe, zona norte do Rio. O sogro da vítima, Sérgio Gonçalves Araújo, também foi baleado durante o ataque. Um homem [Luciano Macedo] que passava pela rua e tentou ajudar a família também foi ferido.
Por pouco, o crime dos militares não foi ainda maior: junto com Evaldo, estavam no veículo sua mulher e seu filho, de apenas sete anos, além de uma vizinha, que não foram atingidos.
“Quando a gente adentrou na estrada em que estava o Exército, aí foi quando o Exército começou a metralhar a gente e ele foi o primeiro que morreu no meu ombro, na primeira rajada de tiros (…) A gente não tem muita reação, só tentar reanimar porque ele estava no volante, tentando reanimar ele batendo na cara dele (…) o carro perdeu a noção. Eu tinha que conseguir parar o carro porque não estava em alta velocidade, puxei o freio de mão, desliguei o carro e o tiro comendo (…)”, contou Sérgio à imprensa.
Michele da Silva Leite, a vizinha e amiga da família que também estava no carro, denunciou à imprensa que os militares não fizeram nenhum tipo de sinalização antes de abrir fogo:
“Eu não vi onde foi o tiro, mas eu acho que foi nas costas. só que a gente pensou que ele tinha desmaiado no volante (…) A gente saiu do carro, eu corri com a criança e ela também. A gente saiu do carro, e mesmo assim eles continuaram atirando”, afirmou.
“Tinha um morador passando aqui na hora, que tava aqui no meio, foi tentar ajudar o padrasto e também foi atingido no peito”, acrescentou Michele, que estava indo junto com a família de Evaldo a um chá de bebê.
Outro detalhe contado pelos sobreviventes é que carro não estava em alta velocidade e foi alvejado em dois momentos, o que aumenta ainda mais a gravidade do crime dos militares do Exército.
“Veio um morador da área ali e foi tentar socorrer o meu genro. Quando ele bateu na porta que eu abri aí começou de novo a rajada de tiro (…) me escondi debaixo do painel do carro. Foi aonde alvejou aqui atrás, nas minhas costas, de raspão”, comentou Sérgio.
Nesse momento, Luciano sofreu três tiros e está hospitalizado em estado grave.