O menino Ryan Silva Andrade Santos, de 4 anos, foi assassinado em novembro do ano passado durante uma operação da Polícia Militar no litoral de São Paulo. O laudo pericial da Polícia Técnico Científica de São Paulo confirmou que o tiro que matou a criança saiu da arma do cabo Clovis Damasceno de Carvalho Junior.
Segundo o laudo, o tiro que matou Ryan saiu de uma arma calibre 12. No dia da operação um único policial usava esse modelo de armamento, Clovis Damasceno.
O crime ocorreu no morro São Bento, em Santos, litoral Sul paulista. Ryan brincava na rua com os irmãos, uma menina de 7 e um menino de 10 anos, e outras crianças. Ele chegou a ser levado à Santa Casa, mas não resistiu.
Não teve confronto, os ‘meninos’ só fugiram. A gente estava na rua, as crianças estavam brincando. Quando a política começou a atirar, a gente sair correndo. Quando vi, tinha muito sangue no chão. E era do meu filho, que tinha sido baleado. Estou arrasada, eu perdi um pedaço de mim.
Beatriz da Silva Rosa, mãe de Ryan.
Beatriz conta que “o que aconteceu acabou com o psicológico das crianças”, os irmãos estão abalados e com medo de sair na rua.
Sete policiais foram afastados na época do crime, mas já voltaram às ruas.
De acordo com a perícia, o projétil não atingiu diretamente a criança. Atingiu uma superfície dura que não foi determinada pelos peritos, para depois atingir e matar Ryan.
No dia do crime, segundo a polícia, os agentes perseguiam dois jovens suspeitos, de 15 e 17 anos, ambos também foram baleados. O mais velho morreu na hora e o outro foi internado sob escolta policial. Uma mulher, de 24 anos, foi atingida por um tiro de raspão e ficou ferida.
É prática usual da polícia militar “atirar primeiro e perguntar depois”, e abriram fogo indiscriminadamente em uma região tomada por crianças.

Repressão ao enterro
Policiais tentaram impedir o cortejo fúnebre feito pelo morro, culminando com a presença ostensiva da polícia em frente ao velório, que gerou conflitos com familiares, parlamentares e até com o ouvidor da polícia, Claudio Silva, que declarou que a situação era absurda.
“Foi horrível. Além de eles matarem o meu filho, que só tinha quatro aninhos, eles vieram e impediram um enterro”, disse Beatriz.

Pai de Ryan assassinado pela PM
O pai de Ryan também foi morto pela polícia. Em fevereiro de 2024, Leonel Andrade Santos, de 36 anos, foi um dos 43 mortos da Operação Verão, na Baixada Santista, litoral de São Paulo.
A polícia justificou a morte informando que o pai de Ryan estava armado e teria ocorrido uma troca de tiros. Leonel usava muletas quando foi baleado. Na época, Beatriz afirmou ser impossível o marido trocar tiros com a polícia, pois não conseguiria correr.
Ele tinha dificuldade para se segurar, andar e se locomover com as muletas. […] Não tem como, não teve troca de tiros.
Beatriz da Silva Rocha, esposa de Leonel e mãe de Ryan.
E ela continuou “Ele nunca conseguia ficar sem as muletas dele. Uma perna estava até menor que a outra porque demorou muito tempo para operar e já estava até atrofiada”.
Além de Leonel, Jefferson Ramos Miranda, de 37 anos, também foi morto.