32 anos da Chacina de Acari

Movimento social realiza atividade pela memória das pessoas assassinadas na Chacina de Acari, que completou 32 anos em 2022.

Cartaz "Chega de Chacina" no Espaço Cultural Mães de Acari, sede do Coletivo Fala Akari — Foto: Rafael Daguerre/1508

No último sábado, dia 30 de julho, em Acari, Zona Norte do Rio de Janeiro, o Coletivo Fala Akari realizou uma atividade política em homenagem às Mães de Acari e pela memória das pessoas assassinadas na Chacina de Acari, que completou 32 anos em julho deste ano.

O coletivo destaca a necessidade de reafirmar a importância das Mães de Acari, pioneiras na luta por para seus filhos.

O ato aconteceu no Espaço Cultural Mães de Acari, sede do coletivo, e contou com familiares de desaparecidos forçados, de vítimas de violência policial e militantes de diversas favelas. Diante da política de extermínio que continua avançando nas favelas e o apagamento histórico das memórias e lutas contra a opressão, torna-se cada vez mais importante lembrar e denunciar a política de do Estado.

O evento proporcionou aos moradores da uma exposição de fotografias e placas que levavam o nome das vítimas da Chacina de Acari. Duas mesas de debate e a exibição de um filme. A primeira mesa contou com duas representantes das Mães de Acari, Aline Leite e Alexandra.

Em seguida, o documentário “Guerra Aos Pretos” foi exibido e posteriormente um debate com: Jota Marques, morador da Cidade de Deus, educador popular e Conselheiro Tutelar de Jacarepaguá; Renata Trajano, Mulher Preta, Defensora de Direitos Humanos e co-fundadora do Coletivo Papo Reto; Fransérgio Goulart, Coordenador da Iniciativa Direito a Memória e Racial e militante movimento de favelas; e Buba Aguiar, patologista, educadora, socióloga, articuladora institucional da Iniciativa PIPA e co-fundadora do Coletivo Fala Akari.

Debate após a exibição do filme curta-metragem Guerra aos Pretos — Foto: Rafael Daguerre/1508

Em 26 de julho de 1990, 11 jovens, sendo 7 menores de idade — em sua maioria residentes da e proximidades — foram retirados à força de um sítio localizado em Suruí, bairro do município de Magé, no estado do Rio de Janeiro, por um grupo de homens que se identificaram como policiais. Os corpos nunca foram descobertos e os responsáveis sequer foram levados à Justiça. O inquérito ficou em aberto por 20 anos, sendo arquivado em 2010.

Em 1994, a Anistia Internacional revelou que os homens haviam sido identificadas como policiais do 9º Batalhão da Militar, de Rocha Miranda, e como detetives do Departamento de Roubo de Carga da 39ª Delegacia de Polícia da Pavuna, ambos na cidade do Rio de Janeiro. A investigação indicava ainda que os policiais militares envolvidos vinham extorquindo algumas das vítimas antes do seu desaparecimento forçado.

Na época, mesmo diante do contexto de violência e sofrendo ameaças, mães dos jovens desaparecidos se uniram para buscar justiça. O movimento ficou conhecido como Mães de Acari. Três mães foram assassinadas. Uma delas foi brutalmente assassinada por investigar sobre o paradeiro de seu filho e, ao que tudo indica, por ter conseguido novas provas sobre o caso. Edméia da Silva Euzébio, mãe de Luiz Henrique e líder do movimento, e Sheila Conceição, sua cunhada, sofreram uma emboscada e foram assassinadas em um estacionamento em 1993, após visitarem um detento no presídio Hélio Gomes.

Segundo uma denúncia apresentada na justiça em 2014, o crime teria sido ordenado pelo coronel reformado da PM e ex-deputado estadual Emir Campos Larangeira, também foram réus os Policiais Militares Eduardo José Rocha Creazola, o “Rambo”, Arlindo Maginário Filho, Adilson Saraiva Hora, o “Tula” e Irapuã Ferreira; o ex-PM Pedro Flávio Costa e o servidor municipal Luiz Cláudio de Souza, o “Mamãe”, e o agente penitenciário Washington Luiz Ferreira dos Santos. Segundo o Ministério Público do Rio, os acusados formavam um grupo conhecido como “Cavalos Corredores”, liderado pelo coronel Emir Larangeira, conhecido por diversas execuções e chacinas na década de 90, época que o oficial comandou o 9º BPM (Rocha Miranda).

Três décadas depois não há qualquer resposta do Estado, sequer os corpos foram encontrados. Ninguém foi preso ou denunciado. A representa perfeitamente a face de um Brasil racista e perpetrador de uma violência incalculável. Chacinas policiais são comuns e ainda mais comum é a impunidade dos agentes. Onze pessoas foram executadas por policiais militares e isso nunca foi prioridade para o Estado brasileiro. A notícia da chacina correu o mundo na época e nem a exposição do país na imprensa internacional foi capaz de gerar uma ação para resolver o caso.

Fotos e placas com os nomes das vítimas da foram expostas na parede — Foto: Rafael Daguerre/1508

Mídia1508

A 1508 é um coletivo de jornalismo independente anticapitalista, dedicado a expor as injustiças sociais brasileiras e a noticiar as mobilizações populares no Brasil e no mundo.

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