Ativistas do movimento negro morrem misteriosamente nos Estados Unidos

Bassem Masri, um ativista palestino-americano, morreu na mesma noite em que eram realizados protestos na cidade de Ferguson, no Missouri, em decorrência da decisão judicial que livrou o assassino de Michael Brown de ser indiciado.

Bassem Masri, no centro, confrontando um policial de St. Louis em Ferguson, Missouri, em 8 de outubro de 2014 — Foto: David Carson/MCT via Getty Images

Bassem Masri, de 31 anos, é um ativista palestino-americano que se tornou conhecido pelo seu apoio à luta das comunidades negras dos EUA contra a violência policial no país.

Nas várias manifestações que se seguiram ao assassinato do adolescente negro Michael Brown pelo então policial Darren Wilson em 2014, Masri era sempre visto fazendo transmissões ao vivo e confrontando os agentes da polícia, em Ferguson, subúrbio de Saint Louis, Missouri.

Naquele mesmo ano, ele chegou a ser detido junto com outros quatro manifestantes durante um ato na porta de um quartel de polícia.

No último dia 21 de novembro, o palestino foi encontrado inconsciente em um ônibus na cidade de Bridgeton, no mesmo estado, que fica na região Centro-Oeste dos EUA. Ele foi declarado oficialmente morto no hospital local, às 11:09 da manhã. A causa do óbito permanece desconhecida.

Masri não é o primeiro nome relacionado aos protestos de Ferguson a morrer em circunstâncias misteriosas nos últimos anos.

Sua morte acontece apenas poucas semanas de a também ativista Melissa McKinnies ter encontrado seu filho Danye Jones, de 24 anos, enforcado em uma árvore no quintal de casa, em 17 de outubro.

As autoridades locais têm tratado o caso como “suicídio”, mas McKinnies contesta essa versão. Ela acredita que tenha sido uma represália por conta de sua militância antirracista.

Da esquerda para a direita: Danye Jones, sua mãe Melissa McKinnies, e seu filho Javon — Foto: Cortesia de Melissa McKinnies

“Lincharam o meu bebê” escreveu a ativista, em postagem em uma rede social na qual mostrava a foto do filho enforcado (que depois deletou).

Nos Estados Unidos, linchamentos seguidos de enforcamentos são um método tradicionalmente utilizado por organizações supremacistas brancas para tirar a vida de suas vítimas.

A letra da canção Strange Fruit, que se tornou famosa na voz da cantora de blues Billie Holiday, faz referência a essa prática.

Em maio do ano passado, outro manifestante, Edward Crawford, de 27 anos, foi encontrado morto com um tiro na traseira de um carro.

Em 2014, Crawford teve sua imagem registrada (foto abaixo) enquanto atirava uma bomba de gás lacrimogênio de volta contra a repressão, em uma foto que se tornou icônica dos levantes em Ferguson.

Esta foto de 13 de agosto de 2014, tirada pelo fotógrafo do St. Louis Post Dispatch, Robert Cohen, mostra Crawford devolvendo uma bomba de gás lacrimogêneo disparada pela polícia que tentava dispersar manifestantes em Ferguson, Missouri. Quatro dias antes, o adolescente negro desarmado Michael Brown foi assassinado a tiros pelo policial branco Darren Wilson. O assassinato desencadeou tumultos e distúrbios na região de St. Louis e em todo o país — Foto: Robert Cohen/St. Louis Post/AP

Assim como viria acontecer depois com Danye Jones, o discurso oficial também foi o de que jovem teria se matado.

Segundo seu pai, no entanto, Edward estava longe de apresentar um quadro de depressão na época. O rapaz, que deixou quatro filhas, estava prestes a assumir um novo emprego e tinha acabado de conseguir um apartamento para o qual pretendia se mudar.

Edward Crawford, 27 anos — Foto: Reprodução

Em 2016, o cadáver de Darren Seals, 29 anos, um dos fundadores do coletivo Hands Up United, criado durante as manifestações em repúdio ao assassinato de Michael Brown, foi encontrado baleado dentro de um carro incendiado, em Riverview, Saint Louis.

Darren Seals, 29 anos — Foto: Reprodução

Dois anos antes, Deandre Joshua, de apenas 20 anos, já havia tido um destino impressionantemente parecido. O jovem tomou um tiro na cabeça e teve seu corpo incendiado, dentro do próprio carro.

Deandre Joshua, 20 anos — Foto: Reprodução

O crime ocorreu na mesma noite em que eram realizados protestos em Ferguson, em decorrência da decisão judicial que livrou o assassino de Michael Brown de ser indiciado.

Essa circunstância, associada ao fato de Joshua ser amigo de Dorian Johnson, que estava com Brown na hora de sua morte, levou muitos a crerem que os dois casos possam estar relacionados.

Familiares e apoiadores prestaram tributo a Masri nas redes sociais. “Um homem gentil que se tornava feroz quando se deparava com a injustiça” escreveu seu primo Faizan Syed. “Em sua curta vida, ele fez o que podia – se não mais – para unificar a luta pela libertação negra e a libertação palestina. Pedimos a todos que orem para Bassem e sua família. Que Alah aceite os seus sacrifícios pela justiça e perdoe suas falhas e seus erros.”

“Ele era uma presença única nos protestos e ajudou a dizer a verdade sobre o que estava acontecendo todos os dias e noites. Nós todos sentimos o seu espírito nas ruas”, postou o ativista DeRay McKesson, da campanha Black Lives Matter.

“Mais um companheiro de Ferguson morreu”, escreveu outro militante. “Bassem Masri. Um dos mais homens mais corajosos, loucos e honrados que eu conheci já. Nós todos sentimos sua falta, Bass. De Ferguson para a Palestina. Que seus ancestrais embalem o seu sono.”

Bassem Masri, 31 anos — Foto: Reprodução


Fontes:

Ferguson Activists Question Connections Between The Deaths Of Six Men Involved In Michael Brown Protests
Another Ferguson Protester Has Died
The man who was the subject of an iconic Ferguson photo has died
In remembrance of Darren Seals, a working-class martyr

Mídia1508

A 1508 é um coletivo anticapitalista de jornalismo independente, dedicado a expor as injustiças sociais e a noticiar as mobilizações populares no Brasil e no mundo.

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