O presidente da França, Emmanuel Macron, nesta segunda-feira (10), recuou em suas medidas de austeridade e teve que responder às ruas de todo o país. O presidente aceitou parte das propostas encabeçadas nas pautas que se somaram à revogação do aumento dos combustíveis, como o aumento do salário mínimo e o corte de impostos. Macron prometeu aumentar o salário mínimo em 100 euros por mês a partir de 2019 e acabar com a tributação sobre horas extras trabalhadas, além de anunciar uma bonificação especial isenta de impostos ao final do ano, conquistas muito mais importantes que a anulação do imposto sobre os combustíveis que foi o estopim da revolta popular.
Sem dúvida é uma vitória do movimento dos trabalhadores franceses que começou a menos de um mês. O presidente francês se sentiu obrigado a segurar suas medidas neoliberais, de perda de direitos trabalhistas e redução do poder econômico para a classe trabalhadora. Por outro lado, Macron voltou a dizer que não recuará na extinção do imposto sobre fortunas, uma de suas primeiras medidas ao chegar à presidência, em maio de 2017.
O fim do tributo é uma das decisões mais atacadas pelos trabalhadores franceses que o chama de “presidente dos ricos” – antigo executivo de um banco de investimentos – e criticam seu governo que está longe da realidade dos trabalhadores. Uma das vitórias dos trabalhadores vêm do bloqueio de ruas, rodovias e depósitos desde 17 de novembro, atrapalhando a economia do país. Afetando o que mais importa para o capital, o lucro.
Em seu discurso, o presidente francês pediu aos “Coletes Amarelos” para acalmar porque “não há justificativa para sua raiva e todos aqueles confrontos violentos“. “Nenhuma raiva justifica o ataque a um policial ou a degradação de uma loja e prédios públicos. De agora em diante, a paz e a ordem republicana devem reinar“, acrescentou Emmanuel Macron. Ignorando, obviamente, que a violência da revolta popular nada mais é do que uma resposta à violência do Estado, e nem sequer se compara há alguns carros incendiados. O que não se justifica, na verdade, é o sofrimento da maioria, a classe trabalhadora, para a riqueza de uma minoria, a burguesia. E o “ataque a um policial” ao qual se refere é uma resposta dos manifestantes às agressões dos policiais, não o contrário. Macron ignorou também os 4.500 detidos, saldo da repressão do Estado francês nos últimos 20 dias de manifestações.
Fica evidente que ele precisa conter os protestos e fará o que for necessário. Clama por “paz e ordem republicana“, bastante irônico para um líder que tem em sua política externa a ideia de uma recuperação econômica das suas multinacionais não na França, mas às custas do seu antigo Império colonial. E que na última manifestação dos “Coletes Amarelos” aplicou terror aos trabalhadores para evitar os protestos. Leia mais aqui.
“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”, Bertolt Brecht.
Ao analisar a situação, a cientista política María Constanza Costa opinou que:
“É um pouco prematuro dizer que estas medidas satisfarão a grande maioria dos franceses que se manifestaram”, afirmou María.
Elas se baseia nas milhares de pessoas que protestaram em 8 de dezembro em toda a França e nas mais de 1.700 pessoas que foram presas em todo o país, e 720 delas permanecem sob custódia policial. As mobilizações foram originalmente iniciadas pelo aumento planejado do imposto sobre combustíveis, mas desde então se tornou um movimento mais amplo contra o sistema capitalista e as reformas econômicas. Vale lembrar também as fortes manifestações dos estudantes secundaristas em diversas cidades francesas, questionando a reforma educacional.