A chacina na Penha e no Alemão no Rio, que a polícia e boa parte da imprensa chamam de megaoperação, terminou – segundo números oficiais – com 121 mortos, entre eles quatro policiais.
Entre tantos números hediondos e por vezes desencontrados, o que se sabe é o seguinte: nenhum dos mortos estava entre os 100 nomes que tinham contra si mandados de prisão que justificaram a ação. Nenhum. Quanto aos presos, 113, apenas 20 deles tinham os mandados que deram origem à operação. Metade dos mortos tinha ao menos um mandado de prisão e 54 homens que morreram não tinham sequer um mandado de prisão. De prisão, não de execução.
A polícia do Rio admitiu que 17 de suas vítimas fatais não tinham nenhum histórico criminal, mas usou dados de redes sociais para estabelecer vínculos entre algumas dessas vítimas e o Comando Vermelho. Num dos casos, de Thiago Neves Reis, uma bandeira vermelha triangular em forma de emoji foi apontada como indício de pertencer à facção. O rapaz de 26 anos não tinha mandado de prisão, não era investigado e não possuía antecedentes criminais. Em outro caso de Kauã de Souza Rodrigues da Silva, de 18 anos, a polícia disse que suas redes sociais não exibiam postagens desde 2022, o que indicaria eliminação de possíveis provas de participação no tráfico. Ele também não tinha antecedentes criminais.
A Defensoria Pública foi impedida de acompanhar as perícias dos cadáveres no IML. É na perícia que se distingue confronto de execução — tiro à queima roupa, disparo de cima para baixo, fraturas pós-morte, sinais de tortura. Há relatos documentados de corpos mutilados e uma mãe afirma: “Arrancaram o braço do meu filho”.


