Trabalhadores de aplicativos realizam nova paralisação por condições dignas de trabalho

Em relação aos “parceiros cadastrados”, como são chamados os trabalhadores, essa “parceria” ou “colaboração” é uma nova forma das empresas encobrir uma relação de exploração.

Trabalhadores voltam a fazer greve / Foto: Rafael Daguerre - Mídia1508

Neste sábado (25/07) ocorreu o segundo ‘Breque dos Apps’, como ficou conhecida a mobilização dos de aplicativos, incluindo motoboys e entregadores de bicicleta, no Centro da cidade do Rio de Janeiro.

A concentração da manifestação iniciou por volta das 10h da manhã atrás da Igreja da Candelária. Ao contrário do primeiro ato no início do mês, poucos jornalistas e apoiadores estiveram presentes. Infelizmente, pouco também foi o número de trabalhadores, se compararmos com a primeira mobilização.

As reivindicações da classe permanecem:

  • aumento da tarifa das entregas;
  • aumento do valor mínimo por entrega;
  • fim dos bloqueios sem justificativa;
  • seguro contra acidentes, roubo e de vida;
  • fim do sistema de pontos;
  • auxilio pandemia (EPIs e Licença).

Mais de 20 dias para nova mobilização

A decisão de realizar uma segunda paralisação mais de 20 dias depois da primeira, não obteve o efeito esperado. Ao que tudo indica, essa espera desmobilizou boa parte da categoria que mostrara força no 1° de julho.

Logo após a primeira mobilização foi lançada – pelos próprios trabalhadores – uma enquete para saber que data seria o próximo ato. A data vencedora foi 12 de julho, pouco mais de uma semana de diferença.

No entanto, a necessidade do adiamento para o dia 25, evitando não cair em datas de outras manifestações, aparentemente, favoreceu as empresas que com bastante tempo criaram ferramentas para desmobilizar o setor, inclusive com ameaças de corte. Por exemplo, alguns aplicativos deram um bônus para os que trabalhassem na data.

PM impede carro de som e ameaça motorista

A Militar (PM) impediu o uso do carro de som fornecido pelo Sindipetro-RJ (Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro), utilizando do artifício de que não havia “autorização” e apreenderia o veículo, se este não fosse retirado da Candelária. Segundo o advogado do Sindipetro-RJ, Bruno, não há uma autorização para carro de som, destacando o abuso de poder do policial. Explica que a única possibilidade de impedimento de seu uso seria por outra manifestação ocorrendo no mesmo local.

Em seguida, uma sindicalista conta que a PM, não satisfeita com a retirada do carro de som, foi atrás do motorista que havia estacionado nas proximidades. Ela denuncia que o policial ameaçou o motorista com infrações de trânsito e apreensão do veículo, caso não fosse embora.

A “uberização” das relações de trabalho

Os e as trabalhadoras de aplicativos vivem a “uberização” das relações de trabalho diariamente, um modelo de trabalho que é vendido como atraente e ideal, sem patrão, pois propaga a possibilidade de se tornar um empreendedor. Entretanto, a ilusão do trabalho autônomo se transforma em uma atividade presente a todo momento, com o aplicativo interligado aos trabalhadores gerando uma contradição que acaba com qualquer chance de liberdade.

As metas impostas e a busca por trabalho em um sistema econômico que se baseia na exploração, assegura uma mão de obra que trabalha por mais de doze horas diárias, sem qualquer tipo de fiscalização do Estado ou instituição para defender e regulamentar seus direitos, assim como reduzir os riscos da atividade. Muitos chegam a rodar 100 km por dia de bicicleta para fazer as entregas. “Eles não querem ter vínculo com a gente, mas querem nos obrigar a ter vínculo com eles, nos encurralam. Às vezes a entrega é muito longe para ganhar muito pouco, mas se não fizer, fica sem trabalhar o resto do dia”, diz um trabalhador. Por exemplo, o iFood tem a opção de escolher ou recusar uma corrida. Eles mostram a distância e o valor pago por ela, mas se o entregador recusar uma corrida, fica o dia inteiro bloqueado e não é chamado para novas entregas.

‘Entrego comida com fome’, diz um trabalhador de aplicativo de que tem a bicicleta como veículo de trabalho.

Não são poucos os que relatam a situação de trabalhar com carregando comida nas costas. Paulo Roberto da Silva Lima, de 31 anos, conhecido como Galo, ganhou popularidade ao gravar vídeos expondo as condições de trabalho que viralizaram na internet. Galo e outros criaram um grupo de entregadores . Ele conta que “as reivindicações dos entregadores são ligadas à nossa comida. Não abraçamos outras pautas porque acreditamos que é uma luta por vez e em primeiro lugar é nossa alimentação para dar sequência a outras. Somos antifascistas porque acreditamos que o fascismo é quando um poder maior não deixa os poderes menores interagirem e extingue o diálogo. O fascismo vai de encontro à própria democracia”, afirma.

A partir de poucas e grandes empresas que concentram o mercado mundial dos aplicativos e plataformas digitais, que tem como principal característica, a ausência de qualquer tipo de responsabilidade ou obrigação em relação aos “parceiros cadastrados”, como são chamados os trabalhadores. Essa “parceria” ou “colaboração” é uma nova forma das empresas encobrir uma relação de exploração, porque obviamente não há qualquer parceria nos lucros.

Rafael Daguerre

Fotógrafo, Repórter, Editor e Documentarista

Um dos fundadores da Mídia1508. "Ficar de joelhos não é racional. É renunciar a ser livre. Mesmo os escravos por vocação devem ser obrigados a ser livres, quando as algemas forem quebradas" ― Carlos Marighella.

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