Na tarde desta sexta-feira (17), o estudante e motorista de aplicativo Brayan Mattos dos Santos, de 19 anos, foi assassinado durante uma operação do 7º Batalhão de Polícia Militar na favela da Chumbada, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio. Além do rapaz, a ação fez outra vítima, um homem não identificado, que foi encaminhado ao Hospital Estadual Alberto Torres.
Segundo relatos, Brayan estava em uma lanchonete, quando foi baleado pelas costas, morrendo ainda no local. Tia do estudante, a professora Alessandra Matos denuncia que os policiais ainda se recusaram a prestar socorro:
“Perguntaram onde estava a pistola. Meu sobrinho tinha anemia falciforme, uma deficiência numa das mãos e não tinha condição nenhuma de segurar uma arma. Pediram para socorrer ele por causa da doença e mandaram esperar. Agora ele está morto. Eles veem negro e atiram porque acham que todo negro é vagabundo, tá errado”, disse.
Ela conta que o sobrinho estava trabalhando como motorista de aplicativos para juntar dinheiro para fazer faculdade e que iria prestar vestibular esse ano para engenharia civil. “Um garoto de 19 anos que estava fazendo pré-vestibular. Ele não era bandido, era um jovem cheio de sonhos. Vejo isso constantemente, mas nunca achei que isso fosse acontecer na minha família”, lamentou Alessandra.
“O Brayan nunca foi bandido, não podemos aceitar isso! Que dor meu Deus, essa família não merecia isso, esse menino merecia o mundo. Conheço desde pequeno, sei as lutas para ele estar bem apesar da anemia falciforme e agora tudo acabar assim, não dá pra se calar diante disso”, escreveu uma amiga numa rede social.
Letalidade policial no Rio é a maior dos últimos 21 anos
As Polícias Militar e Civil do Rio mataram 434 pessoas de janeiro a março deste ano, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ). Foram quase cinco (4,82) mortos por dia, recorde para o período na série estatística de 21 anos, iniciada em 1998.
Cinco dos oito trimestres com mais casos desde o início da série histórica são justamente os cinco mais recentes: os quatro de 2018 e o primeiro de 2019. Em comparação com os primeiros três meses do ano passado, o mesmo período deste ano apresentou um aumento de 18% nas mortes. Antes de 2018, ano da intervenção militar na segurança pública, o estado nunca havia ultrapassado a marca de 400 mortes pelas mãos de policiais em três meses.
As mortes continuam no trimestre em curso. Só em quatro dias de maio, da sexta-feira, dia 3, à segunda-feira, dia 6, pelo menos 13 pessoas morreram por ação policial: quatro no morro do Borel (zona norte), uma na Rocinha (zona sul) e oito nas favelas do Complexo da Maré (zona norte).