#8M – Feministas protestam no Rio contra feminicídio e pelos direitos das mulheres

A Defensora dos Direitos Humanos Marielle Franco, assassinada em março de 2018, foi lembrada em várias faixas e gritos de guerra.

Foto: Rafael Daguerre – Mídia1508

Cerca de 20.000 pessoas, em sua maioria mulheres, realizaram um ato no Centro do Rio como parte de uma Greve Internacional das Mulheres nesta sexta-feira, dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

O protesto saiu da Candelária em direção a Cinelândia, caminhando pela a Avenida Rio Branco. As manifestantes carregavam cartazes e faixas com dizeres como “Mulheres contra e a Reforma da Previdência”, “ para Marielle”, “Quem mandou matar Marielle?” e “Paz entre Nós, aos Senhores”. Ao chegar às escadarias da Câmara dos Vereadores entoaram palavras de ordem, pediram Justiça à Marielle e a todas as mulheres vítimas de feminicídio.

Muitas mulheres se indignaram com homens que carregavam faixas “Lula Livre”, e em alguns momentos até gritavam “Lula Livre”, elas criticaram um certo oportunismo ao usar o 8 de março para uma pauta exclusivamente partidária. “Nossos sonhos não cabem nas urnas”, disse uma manifestante, incomodada com a prática.

Entre as pautas do ato estavam o fim da violência contra as mulheres e o direito ao planejamento de parto, creches, educação e a legalização do aborto. Professoras também se manifestaram contra a e o governo ultradireitista de Jair Bolsonaro.

A Defensora dos Marielle Franco, assassinada em março de 2018, foi lembrada em várias faixas e gritos de guerra. Também foi destacado que o Brasil é o quinto país com maior índice de feminicídio.

Manifesto

Vinte e quatro militantes feministas de diferentes países lançaram na quarta-feira (06/03) um manifesto contra o fortalecimento da extrema direita. Na semana do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, em que se realizam mobilizações em todo o mundo, a ideia é realizar uma ofensiva internacional para “deter o trem do global, que descamba a toda velocidade em direção à barbárie, levando a bordo a humanidade e o planeta em que vivemos” – segundo o próprio documento. No Brasil ocorreram manifestações em diversas cidades.

O texto, intitulado “Para além do 8 de Março: rumo a uma Internacional Feminista”, convoca ainda as mulheres a se manifestarem por uma série de causas, dentre elas a das lutas contra o encarceramento em massa, a desapropriação de terras indígenas e a islamofobia, além de pelos direitos de LGBT+ e imigrantes. “O novo movimento feminista transnacional é moldado pelo sul, não só no sentido geográfico, mas também no sentido político, e é nutrido por cada região em conflito. Essa é a razão de ele ser anticolonial, antirracista e anticapitalista”, afirma o documento.

Milhares de pessoas caminham pela Av. Rio Branco, Centro do Rio / Foto: Rafael Daguerre – Mídia1508

Feminicídios em 2019 no Brasil

Um levantamento feito pelo professor Jefferson Nascimento, doutor em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP) aponta que 107 casos de feminicídio foram registrados, contando apenas as primeiras três semanas do mês de janeiro. O docente usou o noticiário nacional como base da pesquisa. De acordo com o levantamento, 68 casos foram consumados e 39 foram tentativas. Há registros de ocorrências em pelo menos 94 cidades, distribuídas por 21 estados.

O Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio do mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de assassinatos chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres no país.

O Mapa da Violência de 2015 aponta que, entre 1980 e 2013, 106.093 pessoas morreram por sua condição de ser mulher. As mulheres negras são ainda mais violentadas. Entre 2003 e 2013, houve aumento de 54% no registro de mortes de mulheres negras, passando de 1.864 para 2.875 nesse período. Muitas vezes, são os próprios familiares (50,3%) ou parceiros/ex-parceiros (33,2%) os que cometem os assassinatos.

O número de assassinatos de mulheres é crescente. De 2006 a 2016 houve um aumento de 15% dessas mortes; e de 2016 a 2017, um aumento de 6%. Por trás dos feminicídios, é comum encontrar casos de violência doméstica em que as agressões já aconteciam há muito tempo, sem que as mulheres percebessem que estavam diante de um risco real de morte.

Portanto, uma agressão, por “menor” que seja, deve ser denunciada – e não necessariamente pela vítima, mas por qualquer pessoa que tenha conhecimento de um fato envolvendo violência.

Rafael Daguerre

Fotógrafo, Repórter, Editor e Documentarista

Um dos fundadores da Mídia1508. "Ficar de joelhos não é racional. É renunciar a ser livre. Mesmo os escravos por vocação devem ser obrigados a ser livres, quando as algemas forem quebradas" ― Carlos Marighella.

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