No dia 16 de novembro, um policial que fazia a escolta do empresário paulista Flávio Talmelli, feriu com uma metralhadora o índio Arlindo Nogueira, da etnia Baré. O atentado aconteceu durante uma invasão de um barco de pesca à Terra Indígena Jurubaxi-Téa, em Santa Isabel do Rio Negro (AM). O indígena ainda foi indiciado, quatro dias depois, pelo suposto crime de “resistência”, pelo delegado Aldinei Brito, da polícia estadual amazonense. Em decorrência do ferimento, Arlindo foi hospitalizado e corre risco de ter uma de suas mãos amputadas.
Familiares de Arlindo disseram que ele está fora de perigo, porém passará por novas avaliações hospitalares para fazer uma cirurgia. O tiro atingiu o braço e a mão do indígena.
O conflito teve início por volta das 14h30, quando um barco hotel da empresa Amazon Sport Fishing, propriedade de Talmelli, passou sem parar por um posto de vigilância indígena, próximo à comunidade Tabocal do Uneuixi. Além do proprietário, a embarcação transportava funcionários da empresa, turistas e três policiais (dois civis e um militar) à paisana.
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Frente à invasão, os indígenas desamarraram e apreenderam um dos botes atracados ao barco principal, para forçar os responsáveis a parar e dialogar com as suas lideranças. O empresário foi então até a comunidade, escoltado pelos policiais armados com metralhadora e pistolas à vista. O próprio Talmelli deu voz de prisão aos índios, se apresentando falsamente como autoridade federal, conforme registram gravações de áudio.
Os invasores dispararam então para o chão e contra a escola da aldeia, fazendo com que as crianças e mulheres fugissem para o mato. Diante da agressão, Arlindo, que é vigilante e líder comunitário, tentou segurar a metralhadora de um deles e foi atingido no braço. Talmelli e sua escolta deixaram o local sem prestar nenhum socorro ao homem baleado. Arlindo foi removido pelos próprios parentes ao hospital mais próximo, na sede do município de Santa Isabel.
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Ao chegar lá, os Baré foram novamente reprimidos pelos policiais, que já os aguardavam. Os agentes ainda detiveram e agrediram o adolescente Arlielson Bezerra Anaure, filho de 15 anos de Arlindo, que passou a noite preso sem receber alimentação e água. Ferido, o vigilante ficou algemado no hospital, onde os policiais permaneceram dificultando o acesso de seus familiares e tentando apreender seus celulares com os registros da invasão e da ação violenta.
A Amazon Sport Fishing está à frente de um grupo que vem fazendo maciça campanha contra os direitos indígenas, espalhando faixas por Santa Isabel e realizando audiências públicas junto com vereadores para incitar o desrespeito à demarcação da TI Jurubaxi-Téa.
Seu histórico de abusos e violações é antigo. Em 2014, a empresa já havia sido flagrada pescando ilegalmente na Terra Indígena Médio Rio Negro I. Em 2004, o próprio Flávio Talmelli foi denunciado por favorecimento à prostituição, após ter sido oficialmente identificado em uma orgia sexual envolvendo políticos e meninas menores de idade em um iate a caminho de Barcelos (AM).
A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) divulgou um comunicado no último dia 19/11, se pronunciando sobre a invasão. “É um absurdo que agentes públicos de segurança agridam indígenas em seu território, defendendo interesses privados de um empresário que atua fora da lei” afirma um trecho do documento. A entidade lembra que há uma decisão judicial proibindo a pesca em trechos da Área de Proteção Ambiental (APA) Tapuruquara, que incide sobre a reserva.