Os policiais militares que executaram Igor Oliveira de Moraes Santos durante uma operação na noite de quinta-feira (10), na favela de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, não sabiam que a gravação das câmeras corporais estava ativada.
As câmeras foram acionadas depois dos disparos. Porém, o sistema possui um recurso de retroação em 90 segundos. Assim, foram registradas as imagens do que ocorreu um minuto e meio antes do acionamento.
Dessa forma, foi possível analisar o que as câmeras captaram na hora dos tiros. Igor foi baleado quatro vezes. Ele não estava armado e já tinha sido rendido, com as mãos na cabeça.
Igor aparece de mãos erguidas, em pé, encostado em uma parede. Um dos PMs realiza dois disparos contra ele, que cai no chão. Segundos depois, o policial pede para Igor se levantar. Enquanto se levanta, o agente faz outro disparo. Outro militar também atira em seguida.
As imagens desmentiram a versão oficialmente apresentada pelos policiais após a ocorrência — eles relataram troca de tiros, o que não se confirmou pelas gravações. Igor Oliveira foi assassinado a sangue-frio.
Ao saber da execução, moradores de Paraisópolis se revoltaram e realizaram um protesto. Durante a manifestação uma pessoa foi presa e outra foi morta. O nome da vítima é Bruno Leite, de 29 anos.
A análise das imagens gravadas foi fundamental para determinar as prisões de dois dos agentes que participaram do assassinato. Os PMs usavam o modelo novo de câmeras corporais, em que a gravação tem que ser ativada. Segundo informações, uma das câmeras foi acionada por um dos policiais — não se sabe ainda qual —, ativando automaticamente, via bluetooth, as demais. O mecanismo de ativação funciona para todas as câmeras que estiverem em um raio de 20 metros.
O modelo permite que a gravação seja acionada também pelo Centro de Operações da Polícia Militar (Copom). O policial não consegue desligar a câmera, caso queira fazer isso.
O fim do policiamento
É importante esclarecer o papel da polícia e o que significa mais uma execução sumária, que não é a primeira e nem será a última. A polícia é uma ferramenta do Estado (classe dominante) para o controle social e defesa da propriedade privada. Ela cumpre seu papel de controle social através da aplicação sistemática de terror – terrorismo de Estado – contra a população pobre e negra. A execução em favelas e periferias é parte do cotidiano, não o contrário. Portanto, não é despreparo ou mero desvio de conduta. A polícia é preparada para matar e reprimir pobre.
Nos últimos anos, vimos uma explosão de protestos pelo mundo contra a brutalidade e repressão policial.
Para alguns grupos políticos ainda existe a possibilidade de melhorar a polícia a partir da responsabilização, diversidade, treinamento, novos equipamentos e melhores relações com a comunidade. Infelizmente, essas reformas não produzirão os resultados esperados. Nunca produziram. O ponto principal do problema é a natureza do próprio policiamento.
Talvez, a melhor solução para o policiamento ruim seja o fim do policiamento.

