“Justiça por Herus”: protesto pede fim da PM, que matou jovem em festa junina

“Ele arrastou o corpo do meu filho pela escada! Jogou o corpo do meu filho e gritou que meu filho era vigia. Botou uma grade pra ninguém socorrer o meu filho. Eu gritei tanto, eu pedi tanto socorro […]"

Manifestantes protestam pelas ruas do Catete, domingo, 8 de junho — Foto: Rafael Daguerre/1508

Na tarde do último domingo (8), centenas de pessoas se reuniram para homenagear e protestar exigindo justiça para Herus Guimarães Mendes, de 24 anos, assassinado pelo Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), na madrugada de sexta-feira (6) para sábado (7), na favela Santo Amaro, no Catete, Zona Sul do Rio de Janeiro.

A manifestação contou com familiares e amigos de Herus, todos emocionados e revoltados com a morte do jovem. Movimentos sociais e parlamentares de esquerda estiveram presentes em apoio e denunciaram o cotidiano de violência policial nas favelas e periferias do Rio de Janeiro.

Antes da caminhada, mães vítimas da violência do Estado prestaram solidariedade aos familiares de Herus em suas falas.

Ana Paula Oliveira, mãe de Johnatha de Oliveira e uma das lideranças das Mães de Manguinhos; Jackeline Oliveira, mãe de Kathlen Romeu; Mônica Cunha, mãe de Rafael da Silva, criadora do Movimento Moleque e ex-vereadora (PSOL); e Bruna Silva, mãe de Marcos Vinícius; todas tiveram seus filhos mortos por policiais.

Monica Guimarães Mendes, mãe de Herus, fez um relato emocionado e duro ao lembrar de seu filho baleado e afirmou que a polícia não permitiu que Herus recebesse socorro no local. Testemunhas confirmam.

Em entrevista à agência de notícias Alma Preta, Rodrigo Ribeiro, de 39 anos, confirmou o que disse Monica e contou o que testemunhou no local.

“[Os policiais] chegaram atirando a esmo, executaram, a cinco metros de mim”, disse Ribeiro, um dos integrantes do grupo que se apresentava na festa junina. Ele afirma que não houve troca de tiros e que havia muitas crianças no local no momento da ação policial: “Tinha no mínimo 100 crianças”, conta, ressaltando que boa parte delas tinha de cinco a dez anos e se apresentariam na festa.

Herus saiu para comprar um lanche na padaria quando foi baleado.

“Ele arrastou o corpo do meu filho pela escada! Jogou o corpo do meu filho e gritou que meu filho era vigia. Botou uma grade pra ninguém socorrer o meu filho. Eu gritei tanto, eu pedi tanto socorro […] Jogaram bomba e eu gritei pra todo mundo: cadê o Herus? Cadê o Herus? O Herus sempre me atende, gente […] ele nunca desligou o telefone, ele nunca deixou de me responder. Mas o Herus já estava morto”, disse Mônica em entrevista.

O ato percorreu as ruas do Catete, Glória e subiu o Morro do Santo Amaro, a caminho do local onde Herus foi morto. Ao longo da caminhada, gritos de ordem como “favelado não é bandido”, “justiça por Herus”, “eu quero o fim da polícia militar”, entre outros, se repetiam em tom de revolta.

“Cláudio Castro, a culpa é sua”, diz faixa

Faixas e cartazes pediam “cultura e não tiros e medo” para a favela e “festa junina não é local de operação policial”, culpando o governador Cláudio Castro (PL), que constantemente defende e autoriza todas as operações.

Diante da repercussão do caso, pressionado, Castro (PL) afastou os policiais responsáveis pela operação que causou a morte de Herus. A Policia Civil e a Corregedoria da PM investigam o caso.

Além de Herus, ao menos mais cinco pessoas ficaram feridas e foram levadas para o Hospital Souza Aguiar, no Centro. Um adolescente de 16 anos está entre os feridos, assim como um homem identificado como Leurimar Rodrigues de Souza, 38 anos. O adolescente teve alta no início da tarde e Leurimar tinha o estado de saúde estável no início da tarde.

A festa era um encontro de quadrilhas juninas, que vieram de várias regiões do estado do Rio de Janeiro.

De acordo com Fernando Guimarães, pai de Herus, ele levou dois tiros. O jovem foi levado para o Hospital Glória D’Or, também na Zona Sul do Rio, mas não resistiu. Herus trabalhava em uma imobiliária e deixa um filho de apenas 2 anos. Revoltado, Fernando pediu explicações sobre a operação policial que ocorreu durante a festa junina.

Tiros no protesto

Durante o ato por justiça para Herus Guimarães, o homem que aparece nas fotos forçou passagem e atropelou manifestantes. Em seguida, ele deu dois tiros para o alto e arrancou com o carro.

Ao fugir, o homem passou por uma viatura da Polícia Militar (PM) com vários agentes que nada fizeram, revoltando os manifestantes, que gritavam: “E se fosse nós dando tiro? E se fosse nós dando tiro?”; outro gritava “Vocês não vão fazer nada?”.

Um outro jovem manifestante disse: “Sabe por que ele não foi atrás? Porque o cara que deu tiro é policial. Vê se eles foram atrás? Vê se eles foram enquadrar e dar tiro pra matar? Não vai, porra!”.

O vídeo abaixo apresenta imagens do momento. O homem foi identificado pelo jornalista Eduardo Tchao como um policial civil da 73° DP, que fica em Neves, São Gonçalo.

Manifestantes que estavam de moto seguiram o motorista, agentes da PM, também de moto, seguem o veículo e prendem o policial.

Até o momento, a informação é de que o agente da Polícia Civil foi liberado e ainda não há divulgação do seu nome.

O carro é um Peugeot 206, cor prata de placa KWK 6532, RJ.

Mídia1508

A 1508 é um coletivo anticapitalista de jornalismo independente, dedicado a expor as injustiças sociais e a noticiar as mobilizações populares no Brasil e no mundo.

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