Julgamentos em massa em El Salvador de Bukele, segundo as Nações Unidas, "violam as garantias do devido processo legal" — Foto: El País

El Salvador, o “modelo” de segurança de Eduardo Paes

Transformada em enorme penitenciária pelo psicopata Nayib Bukele, republiqueta bananeira é paraíso para prefeito carioca.

Por Marcos Bagno.

El Salvador é um país minúsculo, o 148º do mundo em extensão (pouco menor do que o nosso Sergipe). Em população é o 114º, seu PIB é o 104º do planeta. Ou seja, seu papel na geopolítica mundial é nulo, sua participação na economia global é zero. Pensem em como seria fácil transformar um país pequeno assim numa nação próspera, democrática e pacífica, como a Costa Rica, na mesma América Central e com área e população semelhantes.

Mas é um país pobre e dos mais violentos do mundo porque tem sido dominado por classes dirigentes literalmente assassinas que jamais permitiram a existência de um governo minimamente estável. Em 1932, o governo reprimiu uma revolta camponesa matando algo entre 10.000 e 40.000 trabalhadores rurais, indígenas em sua maioria. A estimativa de mortos é difícil de fazer, o que é típico de situações conturbadas como essas que terminam em genocídio. O episódio ficou conhecido como “La Matanza”.

Entre 1979 e 1992 ocorreu uma guerra civil em que uma junta militar tomou o poder com o apoio – ora que surpresa – dos Estados Unidos. Essa junta se apoiou em forças paramilitares que matavam ao menos 10 pessoas por dia. Aqui também, ao menos 75.000 pessoas foram mortas e outras tantas “desaparecidas”. Em 1980, o arcebispo de San Salvador, Óscar Romero, que se posicionava em favor do povo oprimido, foi assassinado, um crime que repercutiu pelo mundo afora, crime praticado evidentemente por forças ligadas aos ditadores.

A violência social é fruto direto dessas muitas décadas de luta pelo poder da classe dominante que, é fácil imaginar, não é muito rica num país pequeno e dotado de poucos recursos. O resultado de toda essa triste história é o que explica a chegada ao poder de um monstro psicopata como Nayib Bukele. Psicopata porque somente alguém com esses traços poderia imaginar transformar seu pequeno país numa enorme penitenciária, praticar o encarceramento em massa e indiscriminado e, mais monstruoso ainda, oferecer seu sistema carcerário que, podemos imaginar, deve ser um inferno em vida, como produto de atração para o investimento de capital estrangeiro.

Como sempre em situações parecidas, semelhantes monstros obtêm o apoio da população, que se volta contra si mesma, cansada de sofrer e pronta a se agarrar a qualquer aparente tábua de salvação, quando é essa falsa tábua de salvação que afoga toda expectativa de paz. Somente num mundo que caminha a passos largos rumo a uma revivescência do nazifascismo é que uma aberração humana como Bukele, dirigente de um país sem peso algum na política e na economia mundiais, pode ser vista como uma “liderança” de qualquer coisa ou como inspiração para outros criminosos como ele.

Conheço gente aqui no Brasil dizendo que, se pudesse, se mudaria para El Salvador. Esse é o tipo de paraíso que atrai pseudocristãos que desejam a morte do papa, que dizem ser a favor da vida mas impedem mulheres (meninas muitas vezes) de abortar legalmente, que têm como mito um dos maiores criminosos da nossa história, um imbecil que só se tornou presidente porque o Brasil é um El Salvador de dimensões continentais. Gente com déficit cognitivo que não sabe indicar no mapa sequer a própria cidade em que vive.

Mas é para lá que em maio parte o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, para conhecer o “modelo” de encarceramento em massa – e de indubitável atentado contra os direitos humanos – implementado por um típico caudilho de republiqueta bananeira. E tanto quanto lá, a classe média branca racista brasileira que odeia pobre aplaude e elege esse tipo de gente.

Mídia1508

A 1508 é um coletivo anticapitalista de jornalismo independente, dedicado a expor as injustiças sociais e a noticiar as mobilizações populares no Brasil e no mundo.

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