Por Aldo Santiago da Avispa Mídia em colaboração para a 1508.
Tradução: Mídia1508
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Na manhã do último dia 15, agentes da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), em Brasília, realizaram uma operação violenta na aldeia Teko-Haw, onde vivem 40 famílias do povo Guajajara. Usando violência, gás lacrimogêneo, tratores e drones, tropas da PMDF avançaram para permitir a entrada de máquinas que desmataram uma área de vegetação de Cerrado — a savana com a maior biodiversidade do mundo — e também destruíram a casa de rezo Kwarahy, construída por famílias Guajajara que migraram do estado do Maranhão, no norte do Brasil, em 2009.


Localizadas no noroeste de Brasília, essas terras já foram habitadas por povos indígenas como Fulni-ô Tapuya, Tuxá, Kariri-Xocó, Wapichana e Guajajara, cujo território ancestral está localizado dentro da zona de expansão urbana onde o Governo do Distrito Federal (GDF) tem interesse em construir o bairro mais caro da capital — e um dos mais caros de todo o Brasil —, promovendo-o como um “bairro verde ecológico”.
Durante anos, famílias indígenas enfrentaram pressão de empreendimentos imobiliários que tentaram expulsá-las para urbanizar a área, em terras conhecidas como Santuário dos Pajés, um lugar sagrado para a espiritualidade indígena.
Segundo o Mapa de Conflitos por Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil, desde a década de 1990, o território do Santuário dos Pajés é disputado pelas construtoras Emplavi e Brasal, que pretendem se beneficiar do plano de expansão do Setor Noroeste de Brasília. Segundo o mapeamento, ambas as construtoras contam com o apoio da Terracap, empresa pública de jurisdição distrital e federal, responsável pelo registro de terras na capital e que tem feito convênios com outras comunidades indígenas para desocupação de áreas destinadas a projetos urbanísticos.
Até o momento, apenas 32,4 hectares foram oficialmente reconhecidos como Terra Indígena dentro do Santuário dos Pajés (os únicos demarcados na capital brasileira), o que abrange uma área maior, de 50 hectares. O reconhecimento foi resultado de uma disputa judicial de uma década, resolvida por meio de um acordo firmado em 2018 entre o Ministério Público Federal (MPF), a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Instituto Ambiental de Brasília (Ibram) e a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap).
No entanto, os 32,4 hectares são de uso exclusivo da comunidade Fulni-ô Tapuya, mas outras comunidades como Guajajara, Tuxá, Kariri-Xocó e Wapichana também habitam a área. Eles mantêm a reivindicação de expansão e reconhecimento de todo território ancestral historicamente ocupado pelos povos indígenas.
Brasília tem aldeias indígenas
A aldeia Teko-Haw foi criada nos territórios indígenas de Brasília, a apenas 20 minutos do centro do poder político brasileiro, como uma forma de protesto político em 2009, quando um decreto presidencial — emitido por Lula durante seu segundo mandato — ordenou a reestruturação da Funai sem a participação das comunidades indígenas do Brasil.

Desde então, a aldeia, formada por indígenas Guajajara do Maranhão, permanece em suas terras ancestrais a noroeste de Brasília, onde praticam o plantio tradicional de milho e mandioca entre árvores nativas do Cerrado, como o pequi e o araticum.
Apesar de terem enviado vários pedidos formais a várias agências governamentais, por mais de uma década eles tiveram o reconhecimento oficial de seu território negado, bem como o acesso a direitos básicos como saneamento, eletricidade, água potável, educação e assistência médica. Nesse contexto, as famílias da aldeia de Teko-Haw — especialmente as crianças — enfrentam grave vulnerabilidade alimentar.
Poucos dias antes da conclusão da ATL 2025 — onde milhares de indígenas de todo o Brasil se mobilizaram — as forças de segurança do GDF lançaram uma operação policial contra a aldeia. Isso apesar de, durante o acampamento, os membros da comunidade terem se reunido com autoridades federais, exigindo compromissos de respeito às famílias Guajajara que resistem na aldeia Teko-Haw.
Durante as jornadas da ATL 2025, o cacique Francisco Guajajara e outros membros da aldeia Teko-Haw se juntaram às mobilizaçôes para pedir apoio à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e outros povos indígenas que participaram dos protestos. Em entrevista à Avispa Mídia, o cacique Francisco afirmou que sua comunidade tem responsabilidade de cuidar e defender o meio ambiente em um contexto de expansão urbana que causa desmatamento e ameaça as nascentes de água da região.

“Estamos aqui para exigir a demarcação do nosso território, a nossa saúde e a preservação do meio ambiente, porque somos nós, povos indígenas do Brasil, que lutamos por justiça climática”, sustentou o cacique Francisco, ao reclamar das tentativas de destruição da casa de rezo, construção que apesar dos esforços da comunidade, foi desmontada durante a operação do dia 15.
“Estamos lutando com a Terracap para que possamos regularizar o nosso território. É disso que precisamos, porque precisamos do nosso território vivo. É isso que exigimos”, disse o Cacique Guajajara.
Mais uma Tentativa
A operação policial é apenas o mais recente dos esforços da Terracap para deslocar a aldeia Teko-Haw. Recentemente, no final de março, a Justiça Federal determinou a suspensão temporária do despejo da comunidade, após receber um pedido da Defensoria Pública da União (DPU), que denunciou a violação de direitos indígenas durante uma ação policial ocorrida em fevereiro deste ano.
No entanto, a tentativa de despejo foi decretada pela juíza Kátia Balbino, que autorizou o GDF e a Terracap a tomarem medidas conjuntas para “coibir novas ocupações ilegais na região e dar continuidade às obras de infraestrutura na área”.



De acordo com um boletim do GDF, baseado em uma vistoria de março de 2025, o imóvel, “localizado no Bloco 707 da Zona Noroeste, está desocupado, sem moradores ou comunidades indígenas presentes. A decisão judicial foi baseada em imagens aéreas que confirmaram a ausência de ocupações residenciais no local”.
Apesar da incursão violenta e da destruição da casa de rezo, até o momento desta publicação não houve feridos na aldeia Teko-haw, enquanto as famílias Guajajara permanecem em alerta em suas casas para qualquer nova incursão das forças de segurança.