Movimentos protestam contra a “Feira da Morte” no Rio

Ativistas e de favelas do Rio de Janeiro realizaram um nesta quinta-feira (04/04) de manhã, no Riocentro, da cidade, na 12ª edição da maior feira de armas da América Latina, a LAAD Security – Feira Internacional de Segurança Pública e Corporativa, ou melhor, a “Feira da Morte”, como é conhecida por aqueles que lutam contra a política de militarização da vida.

Segundo os organizadores da feira, uma das maiores do mundo no setor, o evento foi restrito a “militares, forças policiais, autoridades e profissionais dos setores de defesa e segurança”. O que não impediu que uma de suas expositoras – a empresa italiana Beretta – tivesse uma das mercadorias expostas em seu estande roubada. Nada mais simbólico, em um estado que teve a maior apreensão de fuzis ilegais de sua história realizada justamente no esconderijo de um policial – o sargento da PM Ronnie Lessa.

Ativista com placas denuncia a violência do Estado / Foto: Reprodução

Vizinho do presidente e acusado de ser o executor da vereadora Marielle Franco, Lessa – que mantinha na casa de um amigo de infância um arsenal com 117 modelos M-16 – bem que poderia ser o mascote da edição deste ano da LAAD Security. Afinal, trata-se de uma figura que personifica como poucas a farsesca política de “segurança” vigente no país, tão lucrativa para a indústria bélica mundial.

Tanto na esfera pública quanto na corporativa, os gastos armamentistas seguem em movimentando cifras astronômicas no Brasil, apesar dos velhos discursos de crise. Segundo dados do próprio Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2016 – somadas as aplicações do governo federal, dos estados e dos municípios – os gastos chegaram a R$ 81,2 bilhões.

Com números assim (que seriam ainda maiores se levassem em conta o tráfico de armas), não é difícil compreender porque a hipócrita “ às drogas” brasileira está longe de terminar. Muito pelo contrário, aliás, apenas se intensifica, às custas de muito sangue derramado nas favelas e periferias.

É o que denúncia, em seu manifesto, a campanha “Caveirão Não! Favelas Pela Vida e Contra as Operações“, uma das organizações populares que participaram do contra a feira:

“Somente em 2019 tivemos a utilização do caveirão fazendo disparos de fogo em 09 favelas do Rio e Baixada Fluminense. De 1997 até os dias de hoje, chegamos aos números de mais de 16.000 pessoas assassinadas pelas forças do Estado, em sua maioria pessoas negras, moradoras de favelas e pobres”  afirma o documento, que prossegue:

“Estamos aqui para dizer Não ao uso sistemático de armamento de como: blindados terrestres, aéreos (o helicóptero conhecido como ‘caveirão voador’), fuzis, granadas e outras armas consideradas menos letais. Com a justificativa de “combater o crime organizado e o tráfico de drogas”, tais operações colocam em risco a integridade física e a mental dos moradores de favelas, que vivem sob constante tensão.”

Confira na íntegra:

Texto da Campanha “Caveirão Não!”:

Inspirados na Campanha Internacional contra o Caveirão, de 2006, que visou combater violações cometidas pelo carro blindado do BOPE, viemos aqui mobilizar toda a sociedade para a retomada da campanha: Caveirão Não! Favelas Pela Vida e Contra as Operações! Essa retomada surge da intensificação da violência por parte das polícias, em especial do Batalhão de Choque da PM, da CORE/ da Policia Civil e do BOPE, e discursos dos recém eleitos: Jair Bolsonaro, presidente da República e do governador Witzel que afirmam cotidianamente que vão formalizar o Excludente de Ilicitude para garantir as polícias que “bandidos” poderão sim ,ser abatidos.

Junto a isso, também tivemos o decreto presidencial flexibilizando o porte de armas. E por fim queremos salientar que no Estado do RJ, o uso do Caveirão aéreo,de drones e dos snipers tem levado pânico e mortes as favelas do estado do RJ. Somente em 2019 tivemos a utilização do caveirão fazendo disparos de fogo em 09 favelas do Rio e Baixada Fluminense. De 1997 até os dias de hoje, chegamos aos números de mais de 16.000 pessoas assassinadas pelas forças do Estado, em sua maioria pessoas negras, moradoras de favelas e pobres.

“Estamos aqui para dizer Não ao uso sistemático de armamento de como: blindados terrestres, aéreos (o helicóptero conhecido como ‘caveirão voador’), fuzis, granadas e outras armas consideradas menos letais. Com a justificativa de “combater o crime organizado e o tráfico de drogas”, tais operações colocam em risco a integridade física e a mental dos moradores de favelas, que vivem sob constante tensão. Provocam ainda a interrupção da vida cotidiana local, impedindo que escolas, creches e postos de saúde, funcionem. Impedem também o direito de ir e vir das pessoas, que não estão livres de serem alvos de “balas perdidas” nem mesmo dentro de suas casas.” (Moradores de Favelas e Periferias do Estado do Rio de Janeiro)

Em todo esse contexto de militarização das vidas, o Brasil, em especial o Estado do RJ, vem recebendo anualmente uma das maiores feiras de armas do mundo, a LAAD. Para marcar a retomada da Campanha Caveirão Não, faremos uma ação em frente a feira das armas na próxima 5ª feira(dia 04/05/2019) a partir das 10h.

Isso precisa acabar! Em defesa da vida, nós da Campanha Caveirão Não! Favelas Pela Vida e Contra as Operações! Movimentos de favelas, Movimentos de Mães e Familiares Vítimas da Violência do Estado e Organizações de Direitos Humanos, exigimos: PAREM AS OPERAÇÕES!

Manifestantes na porta do Feira de Armas no Riocentro / Foto: Reprodução

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Rafael Daguerre

Fotógrafo, Repórter, Editor e Documentarista

Um dos fundadores da Mídia1508. "Ficar de joelhos não é racional. É renunciar a ser livre. Mesmo os escravos por vocação devem ser obrigados a ser livres, quando as algemas forem quebradas" ― Carlos Marighella.

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