Chacina na favela Fallet-Fogueteiro, no Rio

Moradores denunciam também que foram ameaçados pelos policiais, que disseram para saírem do local ou “lavariam todo mundo”.

Sangue e buracos de tiros na parede da casa onde estavam os corpos — Foto: Reprodução

Mais uma no Rio de Janeiro. Na manhã desta sexta-feira (8), 13 pessoas foram executadas depois de rendidas, segundo os próprios moradores do Morro do Fallet-Fogueteiro, em Santa Teresa, no Centro do Rio. Muitos tinham tiros nas costas, indício de não haver confronto. Outro forte indício é que nenhum policial sequer foi ferido em um “confronto” com quase 20 pessoas – outras quatro pessoas foram presas. As mortes aconteceram durante uma ação do BOPE e do Batalhão de Choque. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, treze homens deram entrada já mortos no Hospital Souza Aguiar, no Centro da cidade. Há mais um ferido no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) da mesma unidade.

Um dos mortos dentro da casa / Foto: enviada por moradores

Moradores denunciam também que foram ameaçados pelos policiais, que disseram para saírem do local ou “lavariam todo mundo”, ameaçando familiares e amigos das vítimas.

“Não teve nenhuma troca de tiros. Foi chacina”, afirma moradora.

Outra moradora relata que os policiais fizeram outras ameaças:

“Da próxima vez não vai ser 10, vai ser 20”, disse um policial.

Dos 13 mortos, 10, segundo testemunhas, estavam dentro da casa de uma moradora que nada tem a ver com tráfico de drogas. As 10 pessoas foram rendidas pela PM em uma casa e, mesmo após se entregar, teriam sido executados pelos policiais.

A prima de Robson da Silva Pereira, um dos mortos na casa, disse que os PMs não aceitaram a rendição e entraram no imóvel já atirando.

“A gente pediu para não fazerem isso, mas os policiais não atenderam. Eles entraram na casa e mataram os rapazes, inclusive meu primo, que não tinha envolvimento com o tráfico”. A mãe de outro denunciou a ação dos policiais. “Eles não podem agir assim. Eles se renderam, não havia motivo para matar. A serve para proteger as pessoas e não matar, como fizeram como meu filho”, relatou.

Durante três dias seguidos, o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro entraram em confronto por disputa de território na região, que é controlado pelo Comando Vermelho. Até que o Estado, uma semana depois, através da PM, intervém da pior maneira possível, com uma e sua política de terrorismo.

Não houve perícia, os corpos foram arrastados pela casa e depois colocados pelos próprios policiais em um camburão. Procedimento padrão para acabar com evidências.

Não é segredo para ninguém no que, em situações de conflito entre facções, o Estado (com a PM) escolhe um lado – e executa o lado que não é “fechamento”. Há casos inclusive em que o BOPE alugou o seu conhecido Caveirão (carro blindado da polícia) para a facção “X” invadir uma região e tomar o poder local da facção “Y”. Isso já foi denunciado no Conjunto de Favelas da Maré, por exemplo.

Casa onde ocorreram as execuções — Foto: enviada por moradores

A “grande imprensa” brasileira

Boa parte da imprensa brasileira, como sempre, faz uma narrativa em cima do que a diz ter ocorrido, usando o relato da polícia como a versão oficial de todas as operações em favelas. Moradores e testemunhas são ignorados. Os textos são produzidos alimentando a falsa “ às drogas” e com apenas uma fonte: “segundo a polícia, os mortos eram traficantes”. Ponto final. É o suficiente para justificar uma no Brasil.

O que promove comentários como:

“Quem sugere a liberação das drogas como forma de acabar com o tráfico, está apenas medindo a sociedade com a sua própria régua. Ainda que liberadas, elas causam dependência. Isso aduz que sempre que o usuário precisar sustentar o vício e não tiver o dinheiro, ela praticará crimes para consegui-lo. A forma é o combate severo e manter a criminalização. parabéns a polícia.”

“Isso aí. Bandido bom e bandido morto.”

* Comentários retirados do site G1.

Esse jornalismo policialesco mantém a ideia de criminalização da pobreza e de que favela é crime e por isso todos devem morrer, sem sequer um julgamento. Se a disse que eram traficantes, mereceram a morte. Não há perícia, não há investigação, identificação das pessoas, nada. É a total “confiança” nas palavras de uma das instituições mais corruptas do Estado brasileiro. É a pena de morte usada na prática.

Rafael Daguerre

Fotógrafo, Repórter, Editor e Documentarista

Um dos fundadores da Mídia1508. "Ficar de joelhos não é racional. É renunciar a ser livre. Mesmo os escravos por vocação devem ser obrigados a ser livres, quando as algemas forem quebradas" ― Carlos Marighella.

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