Revolucionária Zilda Xavier

“Eu via o Marighella na minha frente e pensava ‘Carlos Marighella não é homem para ser traído, eu jamais trairei Marighella'”

Uma das mais importantes militantes da luta armada contra o regime militar instaurado em 1964, Zilda Xavier Pereira, faleceu em 2015, aos 90 anos. Ela integrou o comando da Ação Libertadora Nacional (ALN), maior organização guerrilheira do país durante a ditadura.

Seus filhos Iuri e Alex Xavier Pereira, também guerrilheiros, foram assassinados por agentes da ditadura. Quando Zilda estava fora do Brasil, a ditadura matou seu filho Alex, 22. Em seguida, Iuri, 23. Zilda sobreviveu às dores. Uma mulher de se admirar – a dignidade e coragem com que foi à luta. De família pobre, estudou até o equivalente hoje ao quinto ano do ensino fundamental. Compensou a pouca educação “formal” com suas virtudes de inteligência, intuição e valentia.

Comovido com a coragem da mãe na cadeia, Iuri lhe escreveu uma carta: “Não nos dizemos adeus porque em verdade, estando integrados em uma luta assim, por mais distantes que estivermos, estaremos ombro a ombro sempre. E aconteça o que acontecer, todo ato que um realize será também a ação do outro. […] Um beijo do companheiro-filho (filho-companheiro) à companheira-mãe (mãe-companheira).”

• História

Filha de pai ferroviário e mãe dona de casa de origem camponesa, Zilda Paula Xavier Pereira nasceu no em 22 de novembro de 1925. Na manhã de domingo de 22 de novembro de 2015, Zilda se foi pouco depois das oito da manhã. No dia em que completava 90 anos.

Em maio de 1945, recém-chegada ao Rio de Janeiro, Zilda incorporou-se ao Partido Comunista. O PCB foi declarado ilegal em maio de 1947, e ela adotou o nome de Zélia, reverência à sua camarada Zélia Magalhães, assassinada a bala por policiais em maio do ano anterior, quando participava de um protesto no largo da Carioca.

Zilda foi uma das dirigentes da Liga Feminina da Guanabara, mulher de incontáveis batalhas, até a associação ser banida pelo de Estado de 1964. Na casa dela, Carlos Marighella se reuniu com sargentos antes do encontro deles com o presidente João Goulart, em 30 de março daquele ano. Em 1967, Zilda, o ex-marido e os filhos acompanharam Marighella na ruptura com o PCB. A família foi pioneira da Ação Libertadora Nacional.

Iara, Arnaldinho e Zilda, no exílio.

No Rio de Janeiro, a se estruturou em torno dos Xavier Pereira. Eram guerrilheiros, empenhados nas ações armadas e na logística da ALN, Zilda, seu ex-marido, João Batista, e os filhos Iuri, Alex e Iara. Todos Xavier Pereira. Com quem estavam os Marighella e Virgílio Gomes da Silva quando compraram um Fusca para usar no assalto ao carro pagador do Instituto de Previdência do Estado da Guanabara? Com Zilda, cuja identidade na ALN era Carmem. Marighella foi visto na ação, em novembro de 1968, e acabou na capa da “Veja”.

Depois de abril de 1964, é possível que ninguém tenha passado tanto tempo com Marighella quanto Zilda. O último “aparelho” dos dois, no bairro carioca de Todos os Santos, jamais foi descoberto pelos agentes da e quem zelava pela segurança de Carlos Marighella na clandestinidade era Zilda. Ela perdeu Marighella em 4 de novembro de 1969, quando o guerrilheiro que incendiou o mundo foi fuzilado em São Paulo – Zilda estava no exterior.

Zilda partiu no aniversário dos 90 anos. Sua tinha se agravado em 4 de novembro de 2015, quando foi vítima de paradas cardíaca e respiratória. Justo nos 46 anos da morte de Marighella. No finzinho de janeiro de 1970, prenderam Zilda no Rio. Torturaram-na à exaustão, e nenhuma informação lhe arrancaram. A leitura do seu depoimento no Exército emociona até almas brutas. No futuro, ela diria que guardou seus segredos para honrar a memória de Marighella:

“Eu via o Marighella na minha frente e pensava ‘Carlos Marighella não é homem para ser traído, eu jamais trairei Marighella'”

As dores nos joelhos, decorrentes da tortura do pau-de-arara, infernizaram-lhe até o fim da vida. Com ajuda de companheiros e amigos, Zilda escapou do hospital em que a haviam internado, depois da simulação de surto de insanidade. Era 1º de maio de 1970, e ela só regressaria do exílio em 1979. Zilda foi companheira de militância e de amor do revolucionário Carlos Marighella. Nunca mais pertenceu a partido algum.

“Minhas organizações foram duas, o PCB e a ALN”, costumava dizer…

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Texto: Blog do jornalista Mário Magalhães e do site Marxismo.org

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